Diocese de Caratinga

Rádio Eclesia

Salmos: encontros com o Deus da vida

27/11/2021 . Artigos de Formação

O livro dos Salmos é, por excelência, o livro dos encontros. Nele, verificam-se três categorias de encontros, a saber: o encontro do homem consigo mesmo; o encontro dos homens entre si e, por fim, o grande encontro do homem com Deus. Deter-nos-emos nesse terceiro aspecto do encontro.

Ao asseverar que os Salmos elencam e narram, poeticamente, o encontro do homem com Deus, diz-se que, há uma relação de intimidade entre ambos. Isso é de extrema importância, afinal, nunca se ouviu falar de um Deus que se aproximasse tanto dos homens como Adonai. Ele – Adonai – é  Aquele que toma a causa do pobre para defende-lo dos ímpios. ROSSI (2018, p. 31) diz que “na teologia dos Salmos, Deus está sempre ao lado daquele que sofre ou que é tratado com injustiça. Um Deus apaixonado e cheio de ternura!” O Salmo 35 versículos 1 a 3, narra, lindamente, essa intimidade/confiança entre o homem e Deus: “Iahweh, acusa meus acusadores, combate os que me combatem! Toma a armadura e o escudo e levanta-te em meu socorro! Maneja a espada e o machado contra meus perseguidores! Dize a mim: ‘eu sou tua salvação!’” Deus é visto pelo salmista como O único capaz de se levantar e honrá-lo. Deus é a sua única salvação, o único capaz de restituir-lhe a dignidade perdida por causa do ímpio.

É notável no Livro dos Salmos uma dupla atitude de deus para com a humanidade. Ele escuta, mas também fala. Sobre isso vai dizer ROSSI (2018) que:

Nos Salmos encontramos um Deus que pode falar e escutar. Mas não só, trata-se de um Deus que também reponde à interpelação daquele que reza. Além disso, também é possível observar a presença nos salmos de um Deus sensível à dor humana. Um Deus que se apresenta um quanto simpático e, por isso, não se afasta em meio à angústia da pessoa. A presença dele é permeada de misericórdia! E, finalmente, é necessário afirmar que é um Deus que cuida da pessoa: ‘O Senhor é meu pastor e nada me faltará’ (Salmo 23).

Esse encontro do homem com Deus é profundamente marcado pela confiança. Nada é mais forte do que essa atitude do homem para com seu Deus. Ele confia que Adonai irá livrá-lo do poder dos opressores e dos maus. Essa confiança extrema, faz com que o homem se lance em Deus de forma total, confiando-lhe a sua causa sem reservas. Isso é atitude de sabedoria, não uma sabedoria meramente humana, mas inspirada pelo próprio Deus, fonte de todo saber.

O livro dos Salmos resgata a vida do povo de Deus. Ele faz com que o povo realize uma viagem ao passado e recupere a confiança um dia abalada pelas mais diversas situações enfrentadas. Nos Salmos, vê-se que tudo na vida humana é importante, cabe ressaltar que “os Salmos expressam os sentimentos humanos de alegria, de esperança ou desilusão, de dor ou paz, de serenidade ou rebeldia.” (ROSSI, 2018, p. 28). Por meio dos Salmos, o povo reconhece que a sua história é a sua vida e com ela eles devem louvar e reconhecer a presença reconfortante de Deus durante toda a caminhada. Assim reza o salmista: “não estivesse Iahweh do nosso lado – Israel que o diga – não estivesse Iahweh do nosso lado quando os homens nos assaltaram… ter-nos-iam tragado vivos, tal o fogo de sua ira!” (Sl 124, 1-3). Recordando a sua história, o povo é capaz de enxergar novamente a mão de Deus sobre eles.

Os salmos são repletos de uma simbologia riquíssima. Para tanto, faz-se necessário entrar no mundo do salmista para, junto com ele, elevar o perfeito louvor ao Altíssimo. Nos salmos é possível encontrar diversas famílias ou estilos literários. Na família hínica, a preponderância é louvor. Há um verdadeiro deslumbramento do salmista diante da contemplação de Deus e de suas maravilhas.

Numa subdivisão dessa família (família hínica), vê-se os hinos que exaltam a criação, os hinos de Sião e os hinos de YHWH. No salmo 147, lê-se: “louvai a Iahweh, pois é bom cantar ao nosso Deus – doce é o louvor.” Esses e outros salmos se detém no louvor a Adonai. Uma segunda família é composta pelos salmos de súplicas. Neles, o salmista passa pelos dramas mais diversos da existência, mas sabe que Adonai é seu auxiliador, seu defensor. A trama desses salmos se assemelha a um processo jurídico, no qual o salmista implora a Deus que tome a sua causa e faça justiça, um verdadeiro apelo. Podem ser súplicas pessoais ou comunitárias. “Levanta-te com tua ira, Iahweh! Ergue-te contra os excessos dos meus adversários!” (Sl 7, 7). Interessante notar que, a resposta de Deus não é mágica e pode vir das mais diversas formas possíveis, inclusive através do silêncio. Na literatura sálmica encontram-se, também, os salmos de confiança e agradecimento. São salmos de fé, de entrega, de abandono à providência divina, de um reconhecimento da ação de Deus. “Iahweh é minha luz e salvação: de quem eu terei medo? Iahweh é a fortaleza de minha vida: perante quem eu tremerei?” (Sl 27, 1). A família dos salmos reais expressa a esperança messiânica da dinastia davídica. Apesar da experiência negativa da monarquia, o salmista sabe que o reinado de Deus é sublime e perfeito, Nele se pode confiar sempre. “Iahweh é rei, vestido de majestade, Iahweh está vestido, envolto em poder. Sim, o mundo está firme, jamais tremerá. Teu trono está firme desde a origem, e desde sempre tu existes.” (Sl 93, 1-2). Há ainda uma família sálmica designada de salmos litúrgicos, subdivididos em salmos de ingresso, requisitórios e de peregrinações. Eles são o fundamento da liturgia judaica e da cristã. No salmo 24 encontramos a liturgia da entrada no santuário. Assim diz o salmista: “levantai, ó portas, vossos frontões, elevai-vos, antigos portais, para que entre o rei da glória” (Sl 24, 7). Esses e outros salmos expressam a liturgia do povo, principalmente no que se refere ao Templo – exímio lugar do encontro do homem com Deus. A família dos salmos sapienciais, revela instâncias existências, tudo o que se refere à vida das pessoas. “Iahweh, tu me sondas e conheces: conheces meu sentar e meu levantar, examinas meu andar e meu deitar, meus todos são familiares a ti” (Sl 139, 1-3). Por fim, há os salmos históricos. Eles revelam a intervenção salvífica de Deus em favor do seu povo, como por exemplo na criação, no Êxodo, na monarquia, no exílio entre outras situações. Essas intervenções se tornaram memorial para o povo, como já foi dito anteriormente, a história do povo é sua vida. No salmo 135 há um perfeito louvor a Adonai por seus feitos em favor do povo. Assim reza o salmista: “Ele feriu os primogênitos do Egito, desde homens até animais. Enviou sinais e prodígios – no meio de ti, ó Egito – contra Faraó e todos os seus ministros.” (Sl 135, 8-9).

Evidente que essa separação em família não é taxativa. Há salmos que abarcam em si não apenas uma forma literária, mas diversas. Muito mais importante do que uma classificação literária dos salmos é sua profunda espiritualidade. Eles comportam a escola oracional de todo um povo e é base para nossa oração. Os Salmos “[…] revelam a pessoa de forma completa. Em Não há espaço para o orante se esconder. Em cada palavra ele se revela, mostra por completo, abre e deixa Deus conhece-lo por completo.” (ROSSI, 2018, p. 28). São um verdadeiro banco no qual o homem e Deus sentam-se para conversar.

 

Marcio Antonio da Silva        

 

 

Referências

BÍBLIA. A Bíblia de Jerusalém. Coord. José Bortolini. São Paulo: Paulus, 2017

 

ROSSI, L. A. S.. Sapienciais: sabedoria a favor da libertação. (Coleção: O mundo da Bíblia). São Paulo: Paulus, 2018

 

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