1a LEITURA – Ap 11,19a; 12,1-3.6a.10ab
Diante das perseguições sofridas pelas comunidades cristãs, o livro do Apocalipse procura dar uma resposta, um consolo, um incentivo à luta e à esperança. A linguagem é simbólica, apenas compreensível aos cristãos. Nosso trecho traz praticamente 4 imagens simbólicas principais:
O Templo, a arca, a aliança. Estes sinais cósmicos (“no céu”) indicam que Deus vai falar, vai comunicar-se com os homens. A arca, no Primeiro Testamento, trazia as tábuas da Lei, expressão de Deus para o povo. A arca, aqui, pode simbolizar aquela que traz em seu seio a própria Palavra de Deus. Ela pode ter o mesmo significado da mulher do capítulo 12.
Ela estava vestida de glória e protegida por Deus (vestida com o sol); tem traços da eternidade divina (lua sob os pés) A lua pode significar a transitoriedade com suas mudanças de fases, mas a mulher está pisando sobre a lua, ou seja, ela está acima, é transcendente, participa da eternidade de Deus. Ela traz na cabeça uma coroa de 12 estrelas. É uma representação da vitória da comunidade dos filhos de Deus do Primeiro e Segundo Testamento (12 tribos e 12 apóstolos). A mulher é uma imagem polivalente: É Eva, a mãe da humanidade, que vai dar à luz um descendente capaz de esmagar o mal (Gn 3,14-15); é o povo de Deus do Primeiro Testamento (12 estrelas); é Sião-Jerusalém, que dará à luz o Messias; é a comunidade-Igreja, mãe dos cristãos. E, sem dúvida nenhuma, é Maria, mãe de Jesus. A fuga da mulher para o deserto aponta para a vida da Igreja até o fim da história (1260 dias indicam tempo relativo). A Igreja vive em meio às perseguições, mas na intimidade com Deus. A tradição da Igreja sempre aplicou Ap 12 a Maria, que é a Nova Eva, figura da humanidade, figura da Igreja geradora de cristãos. Assunta ao céu, ela antecipa, na glória de Jesus, o futuro vitorioso de cada cristão.
É a personificação do mal, a autossuficiência; é o poder totalitário dos impérios perseguidores da Igreja. No tempo de João, era o Império Romano que perseguia os cristãos. É sanguinário (vermelho), poderoso (sete cabeças, duas coroas), mas seu poder não é absoluto nem perfeito (10 chifres). Pretende lutar contra Deus (estrelas do céu) e quer devorar o Filho da Mulher, o Messias que veio para destruí-lo.
É Jesus que, com sua ressurreição (“foi levado para junto de Deus e do seu trono”), se tornou o vencedor do dragão, do pecado, do mal e da morte. O v. 10 apresenta “a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo”
2a LEITURA – 1Cor 15,20-27a
A 1Cor é uma resposta a diversos problemas e questionamentos da comunidade. O capítulo 15 é todo dedicado à realidade da ressurreição, que alguns estavam negando. Primeiro, ele recorda o anúncio fundamental: Cristo morreu e ressuscitou. Essa certeza da nossa fé é testemunhada por muitos que viram o Cristo ressuscitado. Se, como alguns estão afirmando, os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou e, então, é vã a nossa fé. Mas isso não é verdade. No trecho de hoje, Paulo apresenta dois argumentos.
Adão morreu e na sua morte todos morreram. Jesus é o novo Adão ressuscitado. Ele é o primeiro fruto de uma nova colheita (primícias). Os primeiros frutos garantem a qualidade da colheita. Isto significa que se Cristo ressuscitou como primícias, todos nós ressuscitaremos depois dele. Em Adão a morte, em Cristo a vida.
Jesus vence todas as forças e estruturas injustas e inimigas da vida. Todos esses inimigos ele os colocará debaixo dos seus pés. Só depois que isso tiver acontecido é que ele entregará o Reino a Deus Pai. Aí será o fim. Mas qual será o maior inimigo da vida? É a própria morte. Este é o último inimigo a ser destruído. Cristo já o destruiu em seu próprio corpo, mas a vitória só será completa, quando ele a destruir em cada um de nós. Aí, sim! Aí, ele entregará o Reino a seu Pai para que Deus seja tudo em todos. É bom lembrar que, nesta luta de destruição de tudo que gera a morte, cada cristão deve estar profundamente empenhado.
EVANGELHO – Lc 1,39-56
Aqui temos dois encontros: o encontro de duas futuras mães e o encontro de duas crianças! Além disso, o cântico de Maria.
Quem é Maria? Quem é Isabel? Duas pessoas pobres, mas agraciadas pelo dom da fecundidade. Isabel era estéril e Maria não teve relações com nenhum homem. Deus se manifesta nos pobres, trazendo-lhes a riqueza da vida. As palavras de Isabel são inspiradas em textos do Primeiro Testamento:
Jz 5,24 – “Seja bendita entre as mulheres, Jael”.
Jt 13,18 – “Tu és bendita, ó filha, pelo Deus altíssimo, mais que todas as mulheres da terra”.
Dt 28,1.4 – “Bendito seja o fruto do teu ventre”.
2Sm 6,9 – “Como entrará a Arca do Senhor em minha casa?”
Maria é vista, aqui, como a Arca da Aliança, pois ela traz em seu seio a Palavra encarnada, que é a salvação de Deus; e Isabel reconhece o Salvador, que irá nascer do ventre de Maria (v. 43).
As palavras inspiradas de Isabel são repetidas, há dois mil anos(!), por milhões de lábios devotos, todos os dias, ao rezarem a Ave Maria (cf. v. 48). Maria é bem-aventurada, porque acreditou nas promessas do Senhor. Sua grandeza provém, sobretudo, de sua fé assumida.
À saudação de Maria, João Batista se agita no seio de Isabel, saltando de alegria, e ela se enche do Espírito Santo. É claro que Lucas quer mostrar a presença da Boa Nova no seio de Maria. A presença do Salvador já alegra o coração do precursor. Podemos dizer que enquanto Isabel acolhe Maria, João Batista acolhe Jesus.
O cântico é apresentado como resposta de Maria à saudação de Isabel. Lucas o compõe também com palavras do Primeiro Testamento, principalmente, inspiradas no cântico de Ana em 1Sm 2,1-10, como expressão da gratidão dos pobres – resto de Israel – que aguardavam a libertação.
Maria, como serva do Senhor, se rejubila interiormente e louva o seu Deus salvador, que viu sua pequenez e humildade. Reconhece, no Espírito, que todas as gerações a chamarão de bendita por causa das maravilhas que o Poderoso realizou nela. Tem consciência de que o amor misericordioso de Deus percorre a história, chegando a todos os que o respeitam.
O núcleo do cântico nos mostra uma espécie de inversão de valores. Na dimensão religiosa, Deus destrói a autossuficiência humana, ou seja, dispersa os soberbos de coração. Na dimensão política, Ele derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes, refazendo as relações de opressão em relações de fraternidade. Na dimensão social, Deus despede os ricos de mãos vazias e enche de bens os famintos, transformando as relações de exploração em relações de partilha. No final, ela testemunha a misericórdia de Deus chegando à vida de todos os descendentes de Abraão, que conservaram seu temor ao Deus sempre fiel às suas promessas salvíficas.