Diocese de Caratinga

Rádio Eclesia

8º Domingo do Tempo Comum

02/03/2025 . Comentários Homiléticos

1ª LEITURA – Eclo 27, 5-8

   Percebe-se claramente que a preocupação do texto é com a língua. O homem se revela na sua conversa. O autor apresenta três experiências da vida e tira três conclusões: as conclusões são sobre a peneira sacudida que deixa refugos, sobre os vasos provados ao forno e sobre os frutos das árvores. As conclusões são sobre a fala: “ assim os defeitos de um homem aparecem no seu falar”, “ assim o homem é provado em sua conversa”, “assim a palavra mostra o coração do homem”. No fim vem uma conclusão geral: “Não elogies a ninguém, antes de ouvi-lo falar, pois é no falar que o homem se revela”.

   Implicações na convivência.

Parece que o texto dispensa comentários, pois todo mundo tem experiências de sobra sobre o que o autor está falando. Tem gente que fala que Deus nos deu dois ouvidos e uma boca para escutar mais e falar menos. Todos conhecem o provérbio que diz: “ Quem fala muito dá bom dia a cavalo”. É bom conversar com uma pessoa que sabe escutar, que não fala o tempo todo, que não acha que detém toda a verdade, mas valoriza a opinião da gente. Quem fala muito erra muito no falar, quem fala pouco erra menos. É bom conversar com pessoas educadas, que falam baixo e com palavras de otimismo. Na conversa a pessoa revela quem ela é.

  Implicações políticas

  Este livro foi escrito no início do século II, tempo em que os Selêucidas dominavam a Judeia. Eles impõem o imperialismo cultural e religioso. Isto significa que o povo judeu devia mudar sua religião e seus costumes e adotar a religião, a língua e os costumes gregos. Em outras palavras, o povo estava correndo o risco de perder sua identidade diante da nova ideologia do império. Aqui a gente percebe o esforço da resistência do autor e como ele percebe a maldade, que está por trás da conversa dos dominadores com sua tapeação, com suas promessas enganadoras. O objetivo do livro de Eclesiástico é preservar a identidade do povo, conservar suas raízes culturais e religiosas e manter a fé. Os dominadores queriam destruir tudo isso para unificar o Império. Pensando nisso, pensando nos que dominam, pensando em nossos políticos, releia as três conclusões para você perceber como o texto é mais forte do que parece.

 

2ª LEITURA – 1Cor 15, 54-58

                   Concluindo o tema da ressurreição, Paulo apresenta o triunfo da vida sobre a morte, graças à ressurreição de Cristo; em seguida, tira as consequências práticas de sua doutrina.

                  O tema da ressurreição – Em Corinto, uns negavam a ressurreição e desvalorizavam o corpo, pois não acreditavam numa vida além da morte; outros só afirmavam a imortalidade da alma. Tudo isso era consequência da mentalidade grega dualista, que ensina que o homem é composto de alma e corpo; a alma é boa e o corpo não presta, a alma é imortal e o corpo é mortal. Os cristãos estavam se deixando levar  por esta mentalidade e estavam negando até mesmo a ressurreição de Jesus. Mas Paulo mostra a unidade do homem. O homem é um corpo animado, ou um espírito encarnado. Ele nasce assim e ressuscita assim. Aqui, no finalzinho da I Cor 15, Paulo afirma que a vitória final da vida sobre a morte, realizando a Escritura, vai acontecer, quando este ser corruptível, este ser mortal estiver vestido de incorruptibilidade, de imortalidade. Isto significa que o homem todo na sua carne e no seu espírito ou no seu corpo e na sua alma será ressuscitado. Quando a Igreja reza pela alma do fulano de tal, ela quer indicar a pessoa humana toda, mas, no fundo, a linguagem conserva muito da filosofia dualista grega.

                  O tema da Lei – Antes de sua ação de graças a Deus pela vitória de Jesus Cristo sobre o pecado, a morte e a Lei, Paulo, em uma frase, sintetiza o que ele desenvolve na carta aos Gálatas e aos Romanos: o tema do pecado e da Lei: o aguilhão da morte é o pecado e a força do pecado é a Lei. A morte entrou no mundo por causa do pecado. O pecado é uma arma forte e fatal, é como o aguilhão que produz a morte. E a força do pecado é a Lei. Quer dizer, a Lei judaica estimula e faz desencadear o pecado, pois a Lei indica o preceito, mas não dá a força interior para cumpri-lo.

                  Consequências práticas – “Portanto (…) os cristãos precisam ser firmes e inabaláveis na fé que recebem, e devem se empenhar cada vez mais na obra do Senhor”, ou seja, num agir conforme o espírito de Cristo, traduzido na atividade   apostólica e missionária e sintetizada no mandamento do amor-serviço. Trabalho inútil? Não. Paulo faz questão de frisar que é preciso trabalhar na obra do Senhor, conscientes de que o cansaço do cristão engajado não será em vão. Tudo isso porque Cristo ressuscitou e com ele todos nós ressuscitaremos.

 EVANGELHO – Lc 6, 39-45

                   a) Ainda o tema do julgamento – Pode um cego guiar outro cego? Pelos versículos anteriores, percebe-se que Lucas chama de cegos os discípulos que pretendem ocupar o lugar de Deus, julgando ou pretendendo ser guia dos outros. Esquecem que só Deus pode julgar. Um cego querer guiar outro cego não é gesto de amor, mas de egoísmo, pois um vai levar o outro para o buraco. O discípulo não é maior que o mestre, pode ser no máximo como o mestre. Quem é o mestre? É o próprio Jesus e ele não veio para julgar, nem para condenar (cf. v. 37). Uma comunidade sem julgamento é uma comunidade renovada, uma comunidade segundo o coração do Mestre.

                   b) O tema da correção do irmão – “Cisco no olho” significa um erro, uma falta, um pecado. Facilmente, enxergamos o erro (= cisco) do nosso irmão; mas, dificilmente, enxergamos o nosso que muitas vezes é maior (= trave em contraposição a cisco, graveto). Enxergar e querer corrigir o erro do outro já é um julgamento e só a Deus cabe julgar. Jesus chama de hipócrita quem pretende corrigir o outro, quando seus próprios erros são maiores. Ele nos convida, portanto, a tirar a trave do nosso olho para, enxergando bem, podermos tirar o cisco do olho do nosso irmão. Ele, na verdade, quer que evitemos uma religião de hipocrisia e julgamentos, quando todos nós temos falhas e pretendemos ser guias e juízes dos outros. Ele não quer ensinar que não devemos ajudar o nosso irmão a sair do erro, mas sim que devemos estar atentos com o nosso proceder correto e misericordioso – devemos ser como o mestre.

                   c) Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos – Enquanto Mateus aplica estas comparações aos fariseus (Mt 12,33-35), Lucas se dirige à comunidade cristã. É o que a gente faz que revela o que a gente é. Quem é bom age bem, quem é mau age mal. Quem é bom tem um coração do qual só saem coisas boas. Quem é mau tem um coração do qual só saem coisas más. “A boca fala do que o coração está cheio”. Jesus, o Mestre, é a árvore boa, é o homem do coração bom. O discípulo fiel vai agir como seu Mestre.

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