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Mariana recebe mais de seis mil pessoas para a 8ª Romaria das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce

10/11/2025 . Notícias Regionais

A Arquidiocese de Mariana acolheu a 8ª Romaria das Águas e da Terra da bacia do Rio Doce, realizada dia 09 de novembro, domingo, pela manhã, na cidade de Mariana (MG). Os mais de seis mil romeiros caminharam pelas ruas de pedras com seus cartazes, bandeiras, instrumentos musicais, cânticos e um grito forte de resiliência e de resistência aos desmazelos do capitalismo pela vida humana e da natureza.

O tema central: “Bacia do Rio Doce, nossa ‘Casa Comum’” e o lema: “10 anos do crime: memória, justiça e esperança, também atendeu a exortação do Jubileu da Esperança 2025, com a Peregrinação dos Atingidos da bacia do Rio Doce.

Às 6h, os romeiros começaram a chegar para a concentração na Praça dos Ferroviários, onde puderam tomar um café da manhã e iniciar o encontro com as dinâmicas, apresentações das dioceses presentes e as boas-vindas do Coordenador Arquidiocesano de Pastoral, Padre José Geraldo de Oliveira.

Para ele, a Romaria é um gesto concreto da  Campanha da Fraternidade de 2025, a qual convida a todos a cuidar da “Casa Comum”, com o tema: Fraternidade e Ecologia Integral e o lema: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31).

“As caravanas que aqui vêm, vêm também com a intenção de um gesto concreto da Campanha da Fraternidade deste ano, que nos chama a preservar o planeta. E hoje, de um modo todo especial, aqui nós nos reunimos para esta Romaria das Águas e da Terra, acolhendo a todos com muita alegria”.

Pe. José Geraldo deixou sua mensagem de fé e de esperança. Segundo ele, “ em Jesus presente no meio de nós, que nos chama a promover a vida. Esperança de um mundo novo, de uma nova sociedade, onde todos tenham vida, vida com dignidade”.

Ele finalizou sua narrativa ressaltando que “a esperança não é aguardar passivamente a realização de promessas, mas é a esperança ativa que nos anima na luta para conquistar nossos direitos e promover a vida”, ressaltou Pe. José Geraldo.

Em seguida, “pés a caminho”, iniciou-se a caminhada e dentre tantos cartazes de mártires e de pessoas defensores da vida humana e da ecologia, estavam o de Dom Geraldo Lyrio Rocha, Dom Luciano Mendes de Almeida, Dom Antônio Ferreira Viçoso e da Beata Izabel Cristina Mrad Campos, além das imagens de São Bento, São Francisco de Assis e Nossa Senhora da Abadia das Águas Sujas.

Imagens de São Bento, Nossa Senhora da Abadia das Águas Sujas e de São Francisco de Assis.

Durante o percurso houve três momentos de reflexão. O primeiro abordou a “memória”, recordando o ocorrido no dia 05 de novembro de 2015, em que a lama de rejeitos de minério das mineradoras Vale, Samarco e BHP Billiton colocaram na natureza cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minérios. Essa lama percorreu mais de 600 quilômetros até chegar no Oceano Atlântico, ceifando 20 vidas humanas e degradando a fauna e a flora, afetando ribeirinhos, povos originários, comunidades quilombolas e as cidades que dependiam da água do Rio Doce, sendo considerada a maior tragédia ambiental no brasil.

O Segundo momento refletiu sobre a “justiça”, que é o trabalho incessante pela busca do reconhecimento de direitos, de reparação, de indenização e de compensação por tudo que foi perdido e destruído com a lama. Segundo os próprios moradores do antigo Bento Rodrigues, algumas famílias ainda esperam ser indenizados, além disso, a fauna e fauna precisam ser regeneradas ao longo da Bacia do Rio Doce e muitas cidades, que dependiam da água desse Rio, como Governador Valadares, precisa ter um tratamento adequado para consumo humano.

Gilsa Santos, da Diocese de Governador Valadares, destacou que “dez anos depois, a gente vê pouco efeito de mudança, por exemplo, hoje não temos uma pesquisa sobre a saúde da população que consome essa água ou que ela tenha um tratamento específico”.

O terceiro momento do evento trouxe a “esperança”, um olhar para o futuro, no contexto do Ano Santo do Jubileu, com o compromisso de regeneração social e ambiental da bacia do Rio Doce, porque esperança não decepciona (RM, 5,5), que é o próprio Jesus Cristo.

Para o Assessor da Dimensão Sociopolítica da Evangelização da Arquidiocese de Mariana, Pe. Marcelo Santiago, “à luz da fé, o nosso compromisso é de confiar em Deus e de esperançar. Colocar os nossos dons com inteligência para refazermos o caminho, sobretudo, da regeneração social e ambiental da nossa bacia do Rio Doce”, frisou Pe. Marcelo.

Deilde Ferreira da Silveira de Governado Valadares, participou da Romaria pela primeira vez e associou o evento a uma “tragédia muito chorosa”, a qual pessoas perderam a vida e sente uma “paixão” em participar, pois o objetivo é reivindicar justiça pelas mortes ocorridas.

“Essa tragédia foi muito chorosa, porque as pessoas morreram. Participo pela primeira vez e estar aqui reivindicando a morte deles é um privilégio muito grande pela luta e pela resistência”, associou Deilde.

Além das Dioceses pertencentes a Província Eclesiástica de Mariana, estiveram presentes pessoas das Diocese de Gunhães, Diocese de Sete Lagoas, Arquidiocese de Juiz de Fora e de outros estados.

Manoel Paixão, da Paróquia São José do Botafogo, da Arquidiocese de Juiz de Fora, defende que a verdadeira igreja deve estar sempre aberta e ter uma “opção clara pelo povo pobre”, citando os moradores de Bento Rodrigues” como representação dessa realidade.

“Sempre quem sofre é o pobre, e a igreja de verdade tem que ficar sempre aberta e ter uma opção clara por esse povo, e essa Romaria nos fortalece no caminho de um novo reino de justiça”, defendeu Manoel.

Ao chegar na Praça Cláudio Manoel, conhecida como Praça da Sé, os romeiros foram convidados a venerar a Cruz de Cristo, símbolo do Jubileu da Esperança 2025, que estava exposta na porta da Catedral da Sé, e após a contemplarem, todos passaram pelo portal da esperança sentido a Praça Minas Gerais, onde foi celebrada a Santa Missa de encerramento da Romaria.

A celebração Eucarística foi presidida pelo Arcebispo Metropolitano de Mariana, Dom Airton José dos Santos e concelebrada pelos Bispos, Dom Francisco Cota de Oliveira, Bispo de Sete Lagoas; Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, Bispo de Colatina, no estado do Espírito Santo; e Dom Vicente de Paula Ferreira, Bispo da Diocese de Livramento de Nossa Senhora, no estado da Bahia, e Membro da Comissão de Ecologia Integral e Mineração da CNBB, além dos padres da Província Eclesiástica de Mariana.

Em sua homilia, Dom Airton trouxe o verdadeiro significado do templo de Deus, o papel de Jesus Cristo como alicerce e a grande importância do amor ao próximo, culminando numa forte condenação do crime ocorrido em Mariana, há dez anos.

O prelado categorizou a tragédia não como um acidente, mas como um crime pensado, planejado e previsto e que todos tem a obrigação de não deixar apagar essa memória.

“Todos nós, filhos e filhas de Deus, assumimos obrigações muito importantes da vida, com a família, com a escola, com a sociedade, com a igreja, com o evangelho, são obrigações fortes. E todos nós assumimos esse compromisso, que é uma obrigação especial, não deixar morrer, não deixar apagar a memória daquele dia cinco de novembro de 2015 […] olha, quem comete um crime contra a natureza, contra o ser humano, comete um delito contra as obrigações especiais que deveria assumir. Então, o crime, daquele dia 5 de novembro, foi pensado, nós sabemos disso, não foi um acidente”, afirmou Dom Airton.

Dom Airton José dos Santos.

Dom Vicente de Paula Ferreira, salientou a necessidade urgente de demandas por justiça e reparação digna para as vítimas dos crimes de mineração, e o fim da impunidade, em relação a essas tragédias socioambientais, especialmente na Bacia do Rio Doce.

Ele denunciou a “arquitetura da impunidade” que persiste dez anos após a tragédia de Mariana e a subsequente tragédia de Brumadinho, ambas envolvendo mineradoras como Vale e Samarco. Ele ressalta que elas geram lucros para poucos, enquanto destroem territórios. Enfatizou ainda que “não existe reparação sem escutar, sem a decisão dos atingidos”, pois as decisões tomadas no judiciário, os atingidos não foram ouvidos.

“Por isso, queridos irmãos e irmãs, eu estou aqui para dar a palavra de solidariedade também, mas no compromisso, mais do que nunca, de que nós queremos justiça. E não há reparação sem os atingidos. Não há reparação sem a decisão daqueles que foram atingidos por esses crimes”, denunciou.

Dom Vicente de Paula Ferreira.

Já Dom Francisco Cota de Oliveira, ressaltou a interconexão de tudo entre o ser humano e a natureza, “tudo está interligado”, estabelecendo a unidade e coletividade entre os dois.

“Manifesto a nossa união com todos os afetados da bacia do Rio Doce. Quero falar dos ribeirinhos, dos pescadores, dos indígenas, dos quilombolas, das povoações, das cidades que estão no curso dessa Bacia Hidrográfica. Os seus 850 quilômetros martirizados por esse crime. Fazemo-nos solidários a todos e manteremos essa memória, clamando por justiça e renovamos a esperança pela justiça do reino”, manifestou Dom Francisco.

Dom Francisco Cota de Oliveira.

Por sua vez, Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, deixou sua indignação, uma vez que, sua Diocese também foi afetada pela tragédia, além disso, ele fez uma cronologia até a lama chegar ao estado capixaba.

“Depois de percorrer centenas de quilômetros em território mineiro, a lama de refeitos atingiu o Espírito Santo no dia 16 de novembro de 2015, entrando pelo município de Baixo Gandu, na Diocese de Colatina. No dia 19 de novembro de 2015, alcançou o centro da cidade de Colatina, sede da Diocese, e rompendo o abastecimento de água de cerca de 122 mil habitantes. Em 20 de novembro, a lama chegou no Distrito de Regência, também no estado Capixaba, e no dia 23 de novembro, começou a se espalhar pelo Oceano Atlântico, apesar das tentativas de contenção”, evidenciou Dom Lauro.

Da esquerda para direita: Dom Vicente de Paula Ferreira, Dom Francisco Cota de Oliveira e Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa.

Após a celebração da Santa Missa, a Carta Compromisso foi lida e os organizadores anunciaram a data da 9ª Romaria das Águas e da terra da Bacia do Rio Doce, que será na cidade de Caratinga, em 2027.

A organização da 8ª Romaria das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce esteve sob a responsabilidade da Província Eclesiástica de Mariana, composta pela Diocese de Governador Valadares, Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, Diocese de Caratinga e Diocese de Mariana.

Texto: Dacom/Arquidiocese de Mariana
Fotos: Paulo César Gouvêa/Dacom-Arquidiocese de Mariana

Clique aqui e baixe, na íntegra, a Carta Compromisso da 8ª Romaria das Águas e da terra da Bacia do Rio Doce
Mensagem da Diocese de Colatina pelos 10 anos de rompimento da barragem de Fundão. 
Nota de Solidariedade da CNBB  pelos 10 anos do crime da Samarco 
CNBB

Fonte: Arquidiocese de Mariana

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