PRIMEIRA LEITURA – Nm 6, 22-27
Este texto foi escrito na época do exílio babilônico, mas é atribuído a Moisés e Aarão, no tempo da travessia do deserto em direção à Terra Prometida. Aliás, as expectativas do deserto e do exílio eram as mesmas: futuro melhor, liberdade e vida plena e, por fim, a fecundidade do povo. O texto fala da bênção de Deus. A bênção é um sinal da presença protetora e vivificante de Deus no meio do seu povo. Ela é sinônimo de vida, liberdade, fecundidade e paz. O mesmo texto é dominado pelo verbo abençoar. Ele quer indicar que a presença vivificante de Deus na vida do povo é constante, por isso o texto da bênção (vv. 24-27) repete três vezes o nome de Deus: “do Senhor”. Temos três afirmações básicas:
Primeira: v. 24 – O Senhor é protetor e guarda do povo. Ele conduz o povo para a posse da terra e da liberdade.
Segunda: v. 25 – O Senhor favorece a vida. É isso que significa mostrar seu rosto brilhante e ter piedade.
Terceira: O Senhor comunica ao povo a plenitude dos bens (v. 26). Isso é indicado pela expressão: “conceder a paz”. No caso do povo do deserto ou do exílio, a paz era a posse da terra, dos bens, da liberdade, da dignidade e a possibilidade de ter uma família. O v. 27 fala do nome de Deus. O nome de Deus é Deus-em-pessoa, pois o nome indica a própria identidade. Deus, portanto, promete bênção a todos os que invocarem seu Nome. Neste ano novo, que compromisso eu devo ter com Deus para receber suas bênçãos?
SEGUNDA LEITURA – Gl 4, 4-7
O v. 4 fala da “plenitude do tempo”. A plenitude do tempo acontece com a presença de Jesus no meio de nós. Antes da vinda de Jesus, o povo vivia o passado, o tempo da menoridade, o tempo da escravidão da Lei. Com a presença de Jesus no meio de nós, vivemos o presente de Deus, o tempo da liberdade, o tempo da filiação divina. Não somos mais escravos, mas filhos, herdeiros emancipados. Jesus nasceu de Maria, nasceu sob a Lei, para libertar todos os que estavam sob a Lei, para que todos pudessem ser adotados como filhos. Graças à bondade de Deus, que nos enviou seu Filho, nós somos adotados como filhos.
Para aqueles que se assustam com a expressão “filho adotivo”, esclarecemos que Deus é de natureza divina, nós somos de natureza humana. Só Jesus é da mesma natureza divina do Pai, ou seja, Jesus é Deus e assumiu uma segunda natureza: a humana. Nós somos “filhos adotivos”, quer dizer, continuamos com nossa natureza humana, mas Deus nos acolhe como filhos e herdeiros dos bens celestes. Antes de conhecer a Jesus, os gálatas se relacionavam com Deus em categorias de patrão-escravos. Agora, todos nós nos relacionamos com Deus na categoria de Pai-filhos.
Qual é a prova de tudo isso? A prova é que Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que nos ensina a dirigir-nos ao Pai de um modo carinhoso, como as criancinhas se dirigiam ao seu pai, no tempo de Jesus: “Abba” significa paizinho ou papai. Os versos seguintes lembram o perigo que ameaça a comunidade. Se derem ouvidos aos falsos apóstolos, eles podem voltar atrás e tornar-se de novo escravos, jogando fora a herança do Reino. Esta é uma advertência para os gálatas e para nós também.
EVANGELHO – Lc 2, 16-21
1. A reação dos pastores (vv. 16-20)
Diante do anúncio do anjo aos pastores sobre o nascimento de Jesus, eles se apressaram a ir a Belém, para ver esse acontecimento que o Senhor lhes revelou. É o próprio Deus que se revela através do anjo. Diante da manifestação de Deus, a primeira atitude é a pressa. Pressa de constatar as maravilhas de Deus, pressa de anunciá-las (cf. 1, 39). Não somos muito lentos diante das maravilhas de Deus? É curioso que Deus se manifeste primeiramente aos pastores. Eles são pobres, marginalizados e tinham fama de desordeiros. O que Deus quer nos ensinar com esta atitude? Quem são os preferidos do Reino para Jesus? A classe média, os ricos ou os pobres e miseráveis? Os que têm saúde ou os pecadores?
O sinal de Deus anunciado no v. 12 é agora contemplado: um bebê igual aos bebês que os pastores estavam acostumados a ver no meio deles. Além do bebê, Maria e José, e, provavelmente, mais algumas pessoas. Este é o sinal de Deus, o grande sinal! Os pastores perceberam além das aparências. Que lição de fé para nós, do Séc. XXI, que estamos negando até as aparências! De fato, quantos negam que um embrião é uma pessoa, que uma criança tem direito de viver! Quantos milhões de abortos, por ano, num mundo que acolheu o Filho de Deus?
Os pastores pobres e marginalizados, os preferidos de Deus têm muitas coisas a nos ensinar. Os pastores reconheceram no bebê, não apenas a imagem e semelhança de Deus, mas o próprio Deus Salvador. Depois disso, eles se tornaram anunciadores, evangelizadores, todos se maravilharam com as maravilhas de Deus, e eles voltaram glorificando e louvando a Deus.
2. A reação de Maria (v. 19)
Maria fazia do seu coração e da sua mente lente da percepção e do discernimento. Ela enxerga longe, enxerga claro, ela percebe presença de Deus nos fatos obscuros da vida; é isto que chamamos “fé”. Conservar no coração significa interpretar a ação de Deus nos acontecimentos obscuros da vida. Outra profunda lição de fé para todos nós: incluir Deus nos acontecimentos, conservá-lo no coração, meditar sobre Ele, extasiar-se diante das suas maravilhas.
3. O significado do nome de Jesus
Os pais de Jesus cumpriram fielmente as prescrições da Lei. Circuncidaram Jesus no oitavo dia. Para os judeus, a circuncisão é como batismo para os cristãos: é o sinal da pertença ao povo de Deus. Isto mostra que Jesus entrou na vida do povo. “Deram-lhe o nome de Jesus”. O nome é a identidade da pessoa, indica sua missão. O que significa Jesus? Significa “O Senhor salva”. Jesus é, portanto, Deus no meio de nós para nos salvar. Se você não encontrou um significado no seu nome, procure encontrar o significado do seu batismo.
Dom Emanuel Messias de Oliveira
Administrador Apostólico – Diocese de Caratinga