Diocese de Caratinga

Rádio Eclesia

SEXTA-FEIRA SANTA – PAIXÃO E MORTE DE NOSSO SENHOR

07/04/2023 . Comentários Homiléticos

1ª LEITURA – Is 52,13-53,12

Mais uma vez estamos diante de um dos 4 cantos do “Servo de Deus”. Podemos dividi-lo em três partes.

1ª) Palavra de Deus a respeito de seu Servo (52,13-15)

Deus convida o povo a olhar a figura do Servo sofredor. Mas pede que o povo olhe mais longe, além das aparências. Muitos ficaram aterrorizados ao ver o estado subumano a que o servo foi reduzido, mas muitas nações ficarão perplexas ao ver a meta final da caminhada do Servo Sofredor, pois Deus o exaltará.. Estamos lembrando a frase do Evangelho: “Quem se humilha será exaltado, quem se exalta será humilhado”.

2ª) Palavra de um grupo que a princípio não tinha entendido o significado da paixão dolorosa do Servo (53,1-10)

Este grupo olhou apenas a aparência do Servo. Comparou-o com raiz em terra seca, um homem sem beleza e formosura, desprezado, homem de dores a tal ponto que ninguém fazia caso dele. Mas, depois, o grupo percebeu o significado profundo do sofrimento do Servo: ele sofre inocentemente. Sofre por causa das enfermidades, culpas e pecados do povo. Seu sofrimento, aceito com humildade e sem reclamações, traz a salvação para o povo. O leitor está convidado a comparar a vida dolorosa do servo com a paixão de Jesus. Fica claro que a Comunidade Cristã primitiva viu em Jesus a realização plena desse personagem misterioso do servo de Deus.

3ª) Intervenção de Deus glorificando o servo (53,11-12)

Como sua vida foi entregue como sacrifício em favor dos pecadores, o Senhor o glorificará, ele verá a luz e será festejado entre os grandes. Quem se humilha, realmente, será exaltado por Deus (cf. Fl 2,6-11). Muitas vezes desprezamos os desfigurados, empobrecidos e marginalizados, mas Deus, embora não pareça, está mais junto deles do que de nós. Eles são uma instância crítica da nossa solidariedade, justiça e caridade.

2ª LEITURA – Hb 4,14-16; 5,7-9

A primeira parte do texto quer mostrar Jesus como sumo-sacerdote, que intercede por nós não como os outros da Antiga Lei, através de sacrifício de animais. Ele é mais capaz do que os outros de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado. Ele mesmo foi a vítima oferecida por nós. Ele aprendeu a obediência por meio dos seus sofrimentos. Por causa da sua obediência, Deus o atende. Chegado à perfeição, ele se tornou para todos os que lhe obedecem, causa de salvação eterna. Jesus entrou no céu e é de junto de Deus que ele intercede por nós. Por causa de tudo isso o texto parece exortar-nos:

– “A permanecermos firmes na fé que professamos”.
– “A aproximarmos com confiança do trono da graça”.
– “Ä sermos obedientes a Jesus”.

O tema principal da carta aos Hebreus é o Sacerdócio de Cristo. Para uma pessoa ser sumo sacerdote o Primeiro Testamento exigia, entre outras coisas, uma semelhança com as pessoas pelas quais se deveria interceder, através de orações e sacrifícios. Uma exigência quase desnecessária, mas, lembrando-a, entendemos porque a carta aos Hebreus insiste que Jesus era um ser humano totalmente semelhante a nós e experimentou profundamente nossa condição humana menos o pecado, pois Jesus não deixou de ser Deus ao fazer-se homem. Podemos afirmar que Jesus experimentou todas as consequências do pecado sem nunca ter pecado. Jesus rezou ao Pai “com clamor e lágrimas para que o Pai o salvasse da morte”. É uma referência à agonia de Jesus no Jardim das Oliveiras. E ele foi atendido por causa do seu profundo respeito ao Pai. No fundo, ele reconheceu que era a vontade do Pai que deveria realizar-se e não a sua.

Acho que nos ensina muito esta frase: “Mesmo sendo filho aprendeu a obediência pelo sofrimento”. Nós muitas vezes pensamos que não devemos sofrer, pois somos bons, somos filhos de Deus, somos religiosos, de comunhão diária! Queria salientar que apesar do texto dizer que Deus o podia salvar da morte, e o atendeu, na realidade Deus não o salvou da morte, mas o salvou na morte, através da morte, com a ressurreição. Pois Jesus de fato morreu, mas Deus o ressuscitou. Assim também Deus não nos salva do sofrimento e da morte, mas no sofrimento e na morte, dando-nos a nova vida de ressuscitados. É preciso, portanto, que aceitemos o sofrimento inevitável, como também a morte. A última observação é que, enquanto os sumo sacerdotes ofereciam um sacrifício externo, Jesus se identificou com o sacrifício, o altar e o cordeiro. “Ele se tornou assim fonte de salvação para todos os que lhe obedecem”.

EVANGELHO (Paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo)

Jo 18,1 – 19, 42

Vemos:

1 – Judas com um grupo armado vai ao jardim, onde Jesus estava rezando e o prende. Quando Jesus se identifica dizendo: “Sou eu”, os soldados caem por terra. É que a expressão “sou eu” relembra que Jesus é Deus. Foi assim que Deus se apresentou a Moisés no Sinai. Jesus repreende a violência de Pedro e aceita o cálice que o Pai lhe deu.

2 – Jesus é levado a Anás sogro de Caifás; Anás é ex-chefe dos sacerdotes, mas seu prestígio ainda era grande. Por isso Jesus é levado primeiro a ele. Ali, Pedro nega Jesus pela primeira vez. Em seguida, Jesus é levado amarrado ao chefe dos sacerdotes – Caifás. Pedro nega Jesus pela 2ª vez, e na 3ª vez o galo canta.

3 – Depois, Jesus é levado ao palácio do governador Pilatos; já era de manhã. Ali continua o interrogatório, onde Jesus confirma ser o rei, mas não deste mundo. Pilatos acha Jesus inocente, mas o povo prefere que soltem o bandido Barrabás. Pilatos mandou flagelar Jesus, e os guardas, caçoando, vestiram-no de rei com um manto vermelho e uma coroa de espinhos. É uma afirmação indireta de que Jesus é realmente rei, mas rejeitado.

Pilatos o apresenta ao povo que pede a crucificação do Filho de Deus. Pilatos fica com medo e interroga Jesus de novo. Ele se esforça para soltar Jesus, mas o povo quer que Jesus morra. Pilatos, fazendo Jesus sentar-se no tribunal, relembra que o verdadeiro juiz é Jesus, que vai julgar os vivos e os mortos. Os chefes dos sacerdotes aderem ao sistema político que mata Jesus. Eles pertencem a César não a Deus. Pilatos, para manter seu status, entrega Jesus à morte, mesmo sabendo que ele é inocente.

4 – Jesus carrega a cruz até ao calvário, onde fora crucificado entre dois ladrões. O letreiro firmava mais uma vez que Jesus era o rei dos judeus. Os soldados repartem a roupa de Jesus em 4 partes e sorteiam a túnica. Lá estavam algumas mulheres. A mãe de Jesus e o discípulo que Jesus amava. Jesus declara Maria, a mãe da Igreja, representada pelo discípulo que Jesus amava. A hora fatal da morte e da glória chegou e Jesus, inclinando a cabeça, entrega seu espírito à Igreja. Morre Jesus, nasce a Igreja. Aqui, com a expressão: “entregou o seu Espírito”, o evangelista parece usar um duplo sentido: a morte e o Pentecostes.

5 – Jesus morre no dia da preparação para a Páscoa, ou seja, no dia em que os judeus matavam o cordeiro pascal. Isto significa que o verdadeiro Cordeiro Pascal, que tira o pecado do mundo é Jesus. Ele substitui assim todos os sacrifícios do Primeiro Testamento. Os soldados não quebram as pernas de Jesus, porque ele já estava morto. Mas eles atravessaram seu lado com a lança e saíram sangue e água, símbolos dos sacramentos da Igreja: eucaristia e batismo. É Jesus com sua morte, gerando vida para a Igreja.

6 – José de Arimatéia e Nicodemos se encarregaram de tirar o corpo de Jesus da cruz. Eles perfumaram-no com 30 quilos de perfume (coisa própria de enterro de reis) embalsamaram-no e o colocaram num túmulo novo, no jardim. O jardim é lembrado no início (Jardim das Oliveiras) e no fim. É uma alusão ao Jardim do Édem. Lá o ser humano rejeitou a vontade de Deus, buscando egoisticamente a vida e encontrou a morte. Aqui, Jesus, atendendo à vontade de Deus, entregou-se, caridosamente, à morte gerando vida.

Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo diocesano de Caratinga

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