Diocese de Caratinga

Rádio Eclesia

FESTA DOS APÓSTOLOS PEDRO E PAULO

03/07/2022 . Comentários Homiléticos

1ª LEITURA – At 12,1-1

 A apresentação do governo

Herodes Agripa I, governador da Judeia e Samaria (anos 41-44), desencadeou uma perseguição à Igreja. Os interesses políticos passam sempre por cima da dignidade humana e dos grandes projetos de vida. Herodes mandou matar à espada Tiago, irmão de João e, vendo que isto agradava aos judeus, mandou prender o apóstolo Pedro e pôs dois soldados acorrentados a Pedro, e havia sentinelas nas portas. Quando passasse a Páscoa, Herodes tencionava apresentá-lo diante do povo durante a noite. Queria fazer média com o povo através de Pedro, como fez Pilatos com Jesus e como fazem os políticos de hoje, sem perder oportunidades.

 A atitude da Igreja

A Igreja rezava constantemente na intenção de Pedro.  Pedro revive o drama de Jesus. O episódio revela uma espécie de “Páscoa de Pedro”. Talvez, por isso mesmo, Pedro desaparece dos Atos dos Apóstolos. A missão de Pedro iria se encerrar com este milagre. Ele só vai reaparecer no Concílio de Jerusalém (At 15). A partir do capítulo 12 outro grande apóstolo entra em cena: Paulo.

A intervenção de Deus

A presença do anjo enche a cela de luz. Tudo fica claro. O anjo toca em Pedro, desperta-o e as cadeias se desamarram. O anjo o manda aprontar-se e segui-lo. Pedro foi executando as ordens pensando que fosse uma visão, uma imaginação. Os portões foram-se abrindo diante deles. Na rua, o anjo, de repente, desapareceu. Só aí Pedro toma consciência de que fora libertado por Deus das mãos de Herodes e da expectativa do povo. Curioso é que a menção da prisão no dia dos ázimos, a libertação na noite da Páscoa e a referência de que o Senhor enviou o seu anjo para libertar Pedro das mãos de Herodes e da expectativa do povo judeu relembram de perto a libertação do Egito. O Antigo Povo de Deus que fora libertado do Egito se torna agora Egito opressor do Novo Povo de Deus. O Antigo Povo de Deus rejeitou seu Filho Amado e agora persegue seus seguidores. Mas Deus continua sendo o libertador do povo. Parece que Lucas quer lembrar a Páscoa do Antigo Povo, Páscoa de Jesus e a Páscoa de Pedro. O mesmo Deus libertador está sempre presente. “Na Páscoa da Ressurreição, Deus devolveu Jesus a seus discípulos. Agora, Deus devolve Pedro à Comunidade”. Deus está sempre presente salvando seu povo de situações difíceis. Jesus, de fato, significa “Deus salva”. E ele disse que estaria com sua Igreja até o fim do mundo. Sua comunidade continua rezando pelo sucessor de Pedro, hoje?

2ª   LEITURA – 2Tm 4,6-8.17-18

Estamos no último capítulo da segunda carta a Timóteo que não é de Paulo, mas atribuída a ele pela Tradição. Nosso trecho relata o Testamento de Paulo. Ele está preso. Sabe que chegou a sua hora. Jesus a seu tempo disse: “Pai, chegou a hora, Glorifica teu Filho, para que teu Filho te glorifique” (Jo 17,1). A mesma coisa está acontecendo com o grande apóstolo dos gentios. A gente percebe o claro paralelo entre a paixão de Jesus e a paixão de Paulo.

 Paulo olha para o passado

“Já fui oferecido em libação. Libação é o rito de derramar o vinho, água e óleo sobre a vítima nos sacrifícios judaicos (Ex 29,40). Paulo preparou sua oferta total com sofrimentos, abandono, dor. Ele já se vê pronto para o sacrifício de sua vida. Sua morte é vista como uma viagem, naturalmente, para a casa do Pai. “Chegou o tempo da minha partida”. Ele que fez tantas viagens de evangelização, parte agora bem preparado, de cabeça erguida, para sua última viagem. Agora não será mais uma viagem de trabalho penoso como foram as outras. Agora será a viagem do eterno repouso. Ele vai entrar para a Academia dos Imortais. Sua obra já foi consagrada. Ele vai subir no pódio e receber o troféu da vitória. Paulo se compara a um soldado de Cristo: “Combati o bom combate”. Ele se vê como um atleta que correu num estádio: “Terminei a minha carreira”. Ele se vê como aquele a quem Deus confiou a mensagem, que deverá ser proclamada e ouvida por todas as nações”, sem desvios ou falsificações: “Guardei a fé”. E não lhe faltaram a assistência e a força de Deus nos momentos mais cruciais, nos momentos de solidão, nos momentos de abandono. Como Daniel, ele foi libertado da boca do leão (Dn 6,21), quer dizer, ele se sente salvo do Tribunal do Imperador Romano. É bom olhar para trás e ver o rastro luminoso do caminho percorrido!

   Paulo olha para a frente

Para o melhor dos atletas o que está reservado? Sem dúvida o troféu da vitória, a coroa da justiça. Como bom soldado, Paulo vai ser condecorado. Ele diz que esta coroa é reservada pelo Senhor, justo juiz “a todos os que tiverem esperado com amor a sua manifestação”. “Esperado com amor”. O que você acha que significa esta expressão? Um sentimento romântico de quem espera sua amada num banco de jardim? Repasse a vida de Paulo e responda.

É bom frisar a convicção do apóstolo e sua firme esperança. “O Senhor me libertará de toda a obra maligna e me levará salvo para o Reino celeste”. O atleta já ganhou a corrida. O soldado já venceu a guerra. Só falta a comemoração. Por isso, Paulo termina com este pequeno hino de louvor ao Senhor que o chamou, transfigurou sua vida, o acompanhou por toda a missão e está prestes a condecorá-lo: “A ele a glória pelos séculos dos séculos! Amém!”

EVANGELHO – Mt 16,13-19

Este episódio pertence à parte narrativa do livrinho sobre a Igreja. Este episódio se localiza em Cesareia de Filipe, que está no extremo norte da Palestina, ou seja, o lugar mais distante do centro de decisões que é Jerusalém. Estamos, portanto na periferia do país. O centro, na verdade, jamais seria capaz de acertar com a resposta à pergunta que Jesus vai fazer. A pergunta é: Quem é Jesus? Ela é muito importante e válida para todos os tempos. No fundo, nossa vida depende desta resposta – uma resposta que deve, naturalmente, brotar das atitudes e não das ideias. Jesus não quer uma elite de pensadores, mas um grupo de operários do Reino. A pergunta é dirigida aos discípulos, mas Jesus quer colher duas opiniões. Primeiro a opinião do povo, depois a opinião dos discípulos. Filho do Homem é um título que Jesus gosta de usar para si mesmo. Ele se identifica com a humanidade de tal modo que a maioria das pessoas não consegue ver nele mais do que um homem extraordinário na linha dos grandes profetas.

A opinião do povo

Os discípulos dizem que há 4 tipos de opiniões entre o povo; Jesus seria João Batista, Elias, Jeremias ou um dos profetas. Todas as respostas ficam na linha dos precursores dos tempos messiânicos, profetas provisórios. Ninguém, apesar de todos os prodígios, conseguia ver em Jesus o inaugurador dos tempos messiânicos, o profeta definitivo.

A resposta dos discípulos

É Pedro, o porta-voz dos discípulos, quem responde. Ele tem uma função de destaque em todo o Segundo Testamento. Quem quiser pode conferir: Mt 4,18; Mc 5,37; Lc 24,34; Jo 6,67-69; 21,15-23; At 1,13.15; 3,1; 10,5; Gl 2,7, etc. Pedro, no evangelho de Mateus, responde que Jesus é o Messias e o Filho de Deus. No tempo de Jesus, a palavra Messias era mais importante, pois todos estavam esperando o Messias prometido. A expressão Filho de Deus para o povo tinha uma aplicação mais ampla. Referia-se aos anjos, ao povo eleito, aos israelitas fiéis e também ao Messias. Naturalmente, para a Comunidade, onde surgiu o evangelho de Mateus (década de 80) o título Filho de Deus, professado por Pedro, já tinha alcançado seu verdadeiro sentido, ou seja, Jesus tem uma relação filial única com Deus. Ele partilha com o Pai e o Espírito Santo a divindade. Ele é a segunda pessoa da Santíssima Trindade. De fato, Jesus diz a Pedro que o que ele acaba de afirmar não provém da sua cabeça de homem, mas de uma revelação divina. Só mais tarde a Igreja vai perceber a profundidade da resposta de Pedro.

A contra resposta de Jesus

Jesus muda o nome de Pedro. Isto significa que ele lhe atribui uma grande missão. E a missão é estar à frente da Igreja de Jesus (= minha Igreja). Essa missão de chefe da Igreja é hoje dada ao sucessor de Pedro, a quem chamamos de Papa. “As portas do inferno nunca prevalecerão contra ela”, quer dizer que as forças malignas, forças que estão contra o projeto de Deus não serão capazes de derrubar a Igreja. De onde vêm estas forças? Do capeta? Sim! Não! Quer dizer…! É muito difícil jogar a culpa sobre uma entidade abstrata! e tranquilizar a consciência. Estas forças malignas brotam do coração do próprio homem. Brotam de todos aqueles que oferecem resistência ao evangelho, à vontade de Deus, à justiça, ao bem. Toda vez que nossa atitude é egoísta, opressora e injusta somos “satanás”. O próprio Pedro foi chamado de satanás por Jesus, porque, naquele momento (alguns versículos abaixo), estava sendo obstáculo  no seu caminho de cruz.

O poder das chaves

“Ligar e desligar” é linguagem técnica. Ligar as (cadeias) significa condenar.  Desligar significa absolver. A Igreja, na pessoa de Pedro e seus sucessores (Jo 21,15ss), tem autoridade em assuntos doutrinais e morais. O que ela faz na terra, Deus ratifica no céu. Ela pode proibir (ligar) ou permitir (desligar).

 

Dom Emanuel Messias

Bispo Dioceesano- Diocese de Caratinga MG

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