1ª LEITURA – At 12,1-11
Depois do capítulo 12, Pedro desaparece e surge Paulo no cenário da missão. Pedro reaparece pela última vez no capítulo 15 (Concílio de Jerusalém). O Capítulo 12 narra a perseguição de Herodes Agripa I. Ele mandou matar Tiago, irmão de João e como isso agradou aos judeus, mandou prender Pedro. A comunidade cristã é vítima de interesses políticos dos opressores do povo. É a terceira vez que Pedro é preso. Acontece com Pedro o que aconteceu com Jesus. Pedro iria morrer, mas aqui temos a intervenção de Deus. Um anjo de Deus vai libertar Pedro. O forte esquema de segurança retrata o medo da sociedade estabelecida, diante dos que lutam pela justiça e libertação dos homens. Mostra também como o Deus libertador está do lado dos oprimidos. Deus atende as orações da comunidade orante. É assim que a comunidade, na retaguarda, resiste ao poder que oprime e persegue os que estão na vanguarda. Pedro obedece cegamente às ordens do anjo. Tanto o esquema de segurança como as etapas da libertação querem salientar o poder e a ação de Deus em favor de sua Igreja perseguida. Pedro pensa que se trata de uma visão. Só quando o anjo desaparece é que Pedro volta a si. O Senhor, de fato, o havia libertado das mãos de Herodes e da expectativa do povo judeu, que certamente pediria a sua morte, pois tinha ficado satisfeito com a morte de Tiago. Quem são os Herodes e os judeus de hoje que ficam satisfeitos com a perseguição e a morte dos líderes da Igreja, dos que lutam pela justiça e por um mundo novo?
2ª LEITURA – 2Tm 4,6-8.17-18
O texto de hoje é tirado da Segunda Carta a Timóteo capítulo quarto, versículos de seis a oito e dezessete a dezoito. Trata-se do “Testamento de Paulo”, mesmo sabendo que as cartas pastorais (1 e 2 a Tm e Tt) não são de Paulo, mas apenas atribuídas a ele.
1º – Paulo relembra o passado e projeta o futuro.
Ele está para morrer e faz uma revisão de sua vida. O passado é motivo de orgulho para ele, pois agiu como um bom e corajoso soldado ou como um atleta vitorioso, guardou a fé, entregou sua vida à evangelização. O futuro é para ele carregado de esperança. Ele espera ganhar de Deus a coroa da justiça no dia da manifestação de Jesus. Esta coroa não é só para ele, é também para todos aqueles que como ele trabalharam na esperança e agiram na caridade. A coroa da justiça é símbolo da vitória sobre a morte.
2º – ele relata o que se passou no tribunal.
Aconteceu na paixão de Paulo o que aconteceu na paixão de Cristo. Ele é abandonado por todos, entretanto, o Senhor não o deixou sozinho, mas o revestiu de força. Ali, ele dá testemunho de Jesus e “a mensagem foi plenamente proclamada e ouvida por todas as nações”. Paulo não foi imediatamente condenado; ele foi libertado por um pouco de tempo. “Boca do leão” é uma provável referência ao julgamento do Imperador. Paulo, contudo, não está mais preocupado com uma libertação física. Sua esperança é grande, mas o que espera é uma libertação definitiva para o Reino celeste. Nosso passado é motivo de glória ou de pesar? Nosso futuro é carregado de esperança?
EVANGELHO – Mt 16,13-19
Jesus e seus discípulos estão bem distantes de Jerusalém, que é o centro do poder político, econômico e ideológico de toda a Palestina. Existem duas Cesareias. Uma é a Cesareia marítima, às margens do mar Mediterrâneo. A do Evangelho é a Cesareia de Filipe, no extremo norte da Palestina. É mais fácil dar uma resposta de fé na periferia, do que no centro do poder.
1ª Parte – Jesus pergunta aos discípulos o que as pessoas dizem dele. As respostas são variadas. É um homem importante na linha dos profetas e dos precursores do Messias. É João Batista, Elias, Jeremias ou um dos profetas. Mas não passam disso. Estas respostas são incompletas, não satisfaz a Jesus.
2ª Parte – Jesus quer a resposta pessoal dos discípulos. Em nome da comunidade Pedro responde: “O Messias ( o Cristo – o ungido de Deus), o Filho do Deus vivo”. Na sua resposta Pedro afirma que Jesus é mais do que profeta; ele é o que os profetas anunciaram, o Messias, o Deus-conosco (Emanuel) e o Salvador. Jesus significa Deus salva.
3ª Parte – As palavras de Jesus. Primeiro Jesus diz a Pedro que ele é feliz, pois o que ele falou brotou da fé, foi revelação do Pai. É dessa fé, forte como a rocha, que nasce a comunidade. Depois Jesus faz uma declaração solene sobre Pedro.
1º – Pedro é a pedra sobre a qual Jesus edificará a sua Igreja. A Igreja é edificada sobre a fé e o testemunho da comunidade, dos líderes da comunidade apostólica e do líder dos apóstolos – Pedro e seus sucessores. Não devemos nos esquecer de que estas palavras, não obstante Mt 18,18, são dirigidas, em primeiro lugar e com ênfase sem precedentes, a Pedro, destacando-o como chefe da Igreja. Quem edifica é Jesus, mas sobre a fé de Pedro, que tem a função de manter de pé a esperança da comunidade. Esta função deve ser assumida por todos os líderes.
2º – As portas do Inferno, o poder da morte, os conflitos da sociedade, as blasfêmias e acusações de outros irmãos, que dizem acreditar no mesmo Cristo, os problemas internos da Igreja, nada disso prevalecerá contra a Igreja.
3º – O poder das chaves, poder de ligar e desligar, que aqui é dado a Pedro, é ampliado para a comunidade de fé no que diz respeito ao perdão dos pecados. Entretanto, a Igreja sempre entendeu que a faculdade de perdoar sacramentalmente os pecados, dada à comunidade, deve ser exercida pelos seus ministros ordenados (cf. também Jo 20,23), que a representam.
Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo diocesano de Caratinga