Diocese de Caratinga

Rádio Eclesia

DOMINGO DE TODOS OS SANTOS

06/11/2022 . Comentários Homiléticos

1ª LEITURA – Ap 7,2-4.9-14

Nosso texto pertence à última parte da seção dos selos que ocupa os capítulos 6 e 7. O capítulo 7º é um clarão de força salvadora de Deus, uma injeção de ânimo para a caminhada. Diante da situação calamitosa da humanidade (6,1-8 = abertura dos quatro primeiros selos) e do grito dos mártires (6,9-12 = abertura do quinto selo). Deus intervém para julgar os ímpios (6,13-17) com a abertura do sexto selo. O capítulo sétimo é uma pausa onde o autor apresenta a salvação dos justos, dos eleitos de Deus. A pergunta de 6,17: “quem poderá ficar em pé?” Encontra no capítulo sétimo sua resposta. A salvação é impossível ao homem, mas para Deus nada é impossível.

1º Momento: uma referência ao passado, 7,1-8

O autor tem presente o recenseamento dos hebreus no deserto (Nm 1,20-43). O v. 1 mostra a proteção de Deus. A marca na fronte indica a salvação. Os marcados são 144 mil. Este número não pode ser interpretado ao pé da letra. Ele é simbólico. Ele aponta para a totalidade de 12 (12x12x1000=144.000), todo o povo de Deus do Primeiro Testamento – 12 tribos, como também todo o povo do Segundo Testamento – 12 apóstolos. O no 12 é símbolo da totalidade. O número 1000 simboliza uma grande multidão. Aqui temos totalidade vezes totalidade, vezes uma grande multidão. Este número pode indicar a largura da misericórdia divina, salvando a totalidade dos eleitos.

2º Momento uma referência ao presente/futuro da comunidade cristã- vv. 9-17

O v. 9 esclarece que o nº 144 mil é um número simbólico. As seitas fundamentalistas, que acham que apenas 144 mil serão salvos, caem no ridículo diante do v. 9. O número dos que serão salvos será incontável. Expressões que se referem à salvação aparecem aqui com fartura. “De pé” (= não serão julgados; é sinal salvífico); “Vestes brancas” (simbolizam a vitória, a salvação). “Palmas nas mãos” (= vitória). Todos reconhecem que a salvação vem de Deus através da cruz de Cristo – o Cordeiro. Os versos 10 e 11 traduzem a adoração e o louvor de todos os que foram salvos, juntamente com todos os anjos, com os 24 anciãos são os representantes do povo santo do Primeiro e do Segundo Testamento (12 tribos + 12 apóstolos), e os 4 seres vivos (símbolo do que há de mais perfeito na criação em força e ciência). Os vv. 13 e 14 desvendam o mistério sobre “os que estão trajados com vestes brancas”. “São os que vêm da grande tribulação = lavaram suas vestes e alvejaram-nas com o sangue do Cordeiro”. “O sangue simboliza a eficácia da morte de Jesus”. O povo das comunidades pode assim descobrir seus mártires e santos que derramaram seu sangue por Jesus, na resistência contra o mal representado pelo Império Romano perseguidor. O Apocalipse é assim uma injeção de ânimo para que os cristãos de todos os tempos lutem até o fim para não deixarem que o bem – o projeto de Deus – seja abocanhado pelo antiprojeto, o mal encarnado nas injustiças e perseguições de pessoas e instituições.

2ª LEITURA – 1Jo 3,1-3

Vamos analisar este trecho da carta de João à luz da 6ª e 7ª bem-aventuranças. Sexta: “Bem-aventurados os puros no coração, pois eles verão a Deus” (Mt 5,8; cf. 1Jo 3,3); Sétima: “Bem-aventurados os que promovem a paz, pois eles serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9; cf. 1Jo 3,1-2). Como pano de fundo da 1ª carta de João, lembramos a crise da comunidade provocada pelos dissidentes carismáticos, que achavam que a salvação não estava Jesus – Deus encarnado – que deu a vida por nós, mas num conhecimento religioso especial e pessoal. Negavam Jesus como Messias, achavam-se livres do pecado, iluminados por Deus e se gloriavam de conhecer e amar a Deus, mas sem dar importância ao amor ao próximo. Por isso o autor se preocupa com algumas afirmações básicas como a purificação através do sangue de Jesus. (cf. 1,7-9), a consciência de sermos pecadores (cf. 1,8;2,2); a importância de guardarmos os mandamentos e andarmos como Jesus andou (cf. 2,4-6); a importância de confessar o Filho e não negar que Jesus é o Cristo-Messias (cf. 2,22-23; 5,1); a importância do amor ao próximo (cf. 3,11.14.23; 4,7ss); etc.

O texto de hoje pertence à seção cujo tema é: “viver como filhos de Deus” (cf. 2,29-4,6). Já temos a afirmação da prática da pertença como combate do autor ao espiritualismo vazio dos carismáticos. Praticando a justiça nascemos de Deus e assim podemos ver a maior prova de amor que o Pai nos deu: “sermos chamados de filhos de Deus e o sermos de fato”. Para Jesus na 7a bem-aventurança (cf. Mt 5,9), isto é concedido aos que promovem a paz. Uma paz verdadeira é bem-estar que exclui injustiça e opressão. Supõe, portanto, a fé traduzida em obras, uma fé no único Pai de todos que nos ama através do amor do Filho, que, vivendo e morrendo por nós, nos concedeu a graça da filiação divina. Somos, portanto, todos irmãos com a obrigação do amor mútuo. Mas nós estamos no mundo que desconhece a Deus, desconhece seu Filho e, portanto, também não nos conhece. O mundo, cultiva o ódio e nos impede de ver a Deus. O mundo, portanto, na sua impureza, obscurece a nossa visão e dificulta o nosso ser cristão. Na verdade, a nossa realidade de filhos está escondida em Cristo (cf. Cl 3,3-4). Quando Cristo se manifestar também a nossa realidade de filhos se manifestará, e aí seremos semelhantes a ele, pois o veremos tal como ele é. A 6ª bem-aventurança afirma que os puros de coração verão a Deus. Ser puro de coração é ter uma conduta pautada na justiça e no amor. Aqui, no último versículo, está afirmado que nós nos purificamos a nós mesmos na força da esperança de vermos a Deus tal como ele é.

Sintetizando, para vivermos a realidade de filhos, ou seja, vermos a Deus, ou partilharmos de sua vida, precisamos de uma fé sólida, uma esperança firme e um amor profundo aos irmãos.

EVANGELHO – Mt 5,1-12a

Estamos no início do grande “Sermão da Montanha” (Mt 5-7). Para quem Jesus fala? Para multidões numerosas vindas de vários lugares (cf. 4,25). E essas multidões são compostas de gente simples, pobres, aflitos, perseguidos, famintos. Jesus sobe a montanha e se assenta. A montanha lembra o Sinai, onde Deus tinha feito, através de Moisés, aliança com seu povo. Assentado, Jesus assume o papel de Mestre e legislador da Nova Aliança, numa aproximação muito grande com seus discípulos. No Sinai, a distância era grande entre Deus e o povo. Aqui, o clima é de total confiança e aproximação. Inclusive, aqui, não há leis, há sim propostas de felicidade. Jesus proclama seus ouvintes um povo feliz, bem-aventurado e lhes promete as alegrias do Reino. Duas bem-aventuranças (a 1ª e a 8ª) sintetizam as outras: a 1ª: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus” (v. 3). A 8ª: “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus”. As outras bem-aventuranças não são mais do que esclarecimento dessas duas. A promessa da 1ª e da 8ª é a mesma e é uma constatação diferente: O Reino dos céus é deles (verbo no presente). As outras trazem uma promessa futura (verbo no futuro).

Explicação das bem-aventuranças em chave sociológica

1ª Bem-aventurança – “Pobres” São os injustiçados que depositaram sua confiança em Deus. São considerados pobres em espírito, porque estão abertos para participar do projeto de Deus que é a construção da nova sociedade, baseada na justiça e na igualdade. Isso é o Reino de Deus, incoativamente.

A 8ª Bem-aventurança tem muito a ver com a primeira, pois os que são perseguidos por causa da justiça são os mesmos pobres em espírito. Eles buscam uma sociedade alternativa através da partilha e da solidariedade, através da luta pela justiça e melhores condições de vida para todos. Isto, porém, não é tolerado pela sociedade estabelecida, que, sentindo-se ameaçada, parte para a perseguição.

Qual é a situação dos pobres?

A 2ª, a 3ª e a 4ª bem-aventuranças vão explicar a 1ª e a 8ª; vão dizer quem são os pobres. São os mansos, os aflitos e os que tem fome e sede de justiça. A 2ª indica quem são os mansos: são os que foram amansados pelos poderosos que até lhes caçaram os direitos; mas eles herdarão a terra. A 3ª diz quem são os aflitos: são pessoas cativas e aprisionadas, vítimas da sociedade cruel e opressora, mas Deus as consolará, libertando-as. A 4ª aponta quem são os que têm fome e sede de justiça: são aqueles que não podem viver (fome e sede) na atual situação de desigualdades e injustiças sociais. Eles lutam pela sobrevivência. Sua luta é justa e eles serão saciados. A situação dos pobres é de extrema miséria, injustiça e opressão.

Qual é a meta dos pobres?

As bem-aventuranças 5ª, a 6ª e a 7ª vão lembrar, com outras palavras, que os pobres querem construir a nova sociedade. A 5ª afirma que os pobres são misericordiosos, têm o coração aberto aos míseros, aos necessitados como eles, são solidários; querem colocar tudo em comum. Deus reparte com quem reparte. A 6ª confirma que os puros de coração verão a Deus. O coração é a sede das opções profundas. Os pobres são puros de coração, ou seja, suas opções estão em sintonia com o Reino, são íntegros, honestos, com os outros. A 7ª diz respeito aos que promovem a paz. Paz ( = shalom) é a plenitude dos bens, é exclusão da injustiça, da opressão e da violação dos direitos. Paz aqui é mais social do que pessoal. Serão chamados filhos de Deus os que lutam pelo bem comum, pelo bem-estar de todos.

O conflito na comunidade – 9ª bem-aventurança.

Esta última bem-aventurança é diferente das outras. Ela é mais desenvolvida, enquanto as outras são escritas na 3ª pessoa, esta está na 2ª pessoa com recomendações diretas aos discípulos. No fundo, ela quer revelar as tensões e conflitos enfrentados pela comunidade de Mateus. A comunidade sofria injúrias, perseguições e calúnias, por causa de Cristo. O Evangelista busca em Jesus uma força e um incentivo na caminhada. O v.12, de fato, afirma; “Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus. Pois foi deste modo que perseguiram os profetas que vieram antes de vós. ”

Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo Diocesano – Diocese de Caratinga

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