Diocese de Caratinga

Rádio Eclesia

3º Domingo da Quaresma

23/03/2025 . Comentários Homiléticos
  • Apresentação do Senhor – o Deus libertador

Moisés foi pastoreando as ovelhas do seu sogro até a montanha de Deus – o Horeb (Sinai). Ali, aparece para Moisés no meio de uma sarça, que estava em chamas, mas não se consumia. A experiência de Deus é um mistério que está além da compreensão humana. Este mistério é apresentado aqui como fogo que arde sem se consumir. Deus chama Moisés e se apresenta como o Deus de seus antepassados, o Deus que fez aliança com os patriarcas Abraão, Isaac e Jacó. É um Deus sensível e solidário, por isso escutou os clamores do povo no Egito e desceu para libertá-lo. É um Deus fiel às promessas feitas aos patriarcas. Ele vai conduzir o povo a uma terra boa e espaçosa, onde corre leite e mel.

  • Vocação e missão de Moisés, e revelação do nome de Deus

“Moisés, Moisés”. “Aqui estou”. Deus chama e Moisés responde. Deus exige respeito e reverência. Moisés, de fato, deve tirar as sandálias, pois ele está pisando em lugar sagrado.

Para que Deus chama Moisés? Para ele ser o seu agente na libertação do povo, por isso Deus vai enviá-lo ao Egito. Moisés, porém, se sente incapaz dessa missão (v. 11). Mas Deus garante sua presença e promete que o povo chegará até o Sinai para prestar-lhe um culto. Em seguida, Deus revela o seu nome: “Eu sou aquele que sou”, para que quando o povo perguntar, Moisés possa responder: “Eu sou me enviou até vocês”. “Ele é o mesmo Deus dos seus antepassados, sempre fiel às suas promessas feitas a Abraão de formar dele um numeroso povo e libertá-lo do Egito. E ele quer ser chamado sempre com este nome, que está ligado `a sua presença e a todo o processo de libertação do povo.

2ª Leitura – 1Cor 10,1-6.10-12

Esta releitura do antigo Testamento quer mostrar que “estes fatos aconteceram como exemplos para nós”. A preocupação do apóstolo é a tentação da comunidade de recair nos erros do passado “a falsa ilusão de estarem seguros e a indigna convicção de já terem atingido a libertação definitiva”. Quais são os fatos que aconteceram como exemplos? A travessia pelo deserto, onde os israelitas eram protegidos pela nuvem de Deus; a travessia do Mar vermelho, sob a ordem de Moisés; o maná – alimento de Deus para todos; a água da rocha. A nuvem e a água do mar lembram para Paulo o batismo que lava, congrega, compromete. No maná e na água da rocha, temos a prefiguração da Eucaristia. E essa rocha que nos acompanhava era Cristo. “Segundo as tradições dos rabinos, a rocha golpeada por Moisés (cf. Nm 20,1-3) seguia os hebreus para providenciar-lhes a água. Essa interpretação é aqui usada para dizer que Cristo conduz o povo desde os tempos do Êxodo” (cf. Bíblia Pastoral). Também para o judaísmo, a sabedoria (que para nós é Cristo) era identificada com a rocha do deserto. O v. 5 nos adverte: “Apesar disso, a maioria deles não agradou a Deus, e caíram mortos no deserto”. Quer dizer, com tantos favores de Deus, tinham tudo para serem ótimos e mesmo assim pecaram. E tudo isso aconteceu como exemplo e instrução para nós que vivemos no fim dos tempos. Fim dos tempos não é proximidade cronológica do fim, mas qualificação existencial do tempo presente, aberto à superação final. O que fazer então? É não fazer o que eles fizeram. Os vv. 6-10 enumeram o que não se deve fazer: cobiças, idolatrias, imoralidades, provocar a Deus, murmurar. Eles cometeram esses erros e foram castigados. Eis a grande advertência final: “portanto, aquele que julga estar de pé, tome cuidado para não cair. “Quer dizer, nunca achemos que somos melhores do que ninguém só porque temos uma vida sacramental, pois fomos feitos do mesmo barro.

Evangelho – Lc 13,1-9

  • As tragédias humanas não são castigos de Deus

Algumas pessoas contam a Jesus a tragédia dos galileus. Pilatos utiliza o tesouro do Templo de Jerusalém para construir um aqueduto. Um grupo de galileus opôs resistência a essa atitude desrespeitosa e arbitrária do Procurador romano. Pilatos reage assassinando-os enquanto ofereciam sacrifícios no Templo. A esse caso Jesus acrescenta outro, ou seja, a queda da torre de Siloé, matando dezoito pessoas. Só que este não é identificado historicamente. Que interpretação os judeus davam a esses fatos? Eles achavam que eram castigos de Deus pelos pecados deles. É a doutrina da retribuição: quem faz o mal deve pagar por ele já nesta vida. Como eles são justos foram poupados.

  • Uma lição dos fatos

Jesus tira essa ideia errada da cabeça do povo: todos são pecadores, todos têm de se converter. Deus não é vingador. Esses fatos trágicos são falhas humanas (caso de Pilatos) e contingências da vida (queda da torre de Siloé). Entretanto, Jesus tira uma lição dos fatos da vida: as vítimas não são mais pecadoras do que os presentes, mas estes acontecimentos podem ser vistos como advertências e convite à conversão. Uma vida de solidariedade no mal leva à ruína total. Uma vida de solidariedade no bem leva à construção do Reino de Deus.

  • A paciência e generosidade de Deus em Jesus Cristo

A parábola da figueira, que simboliza o povo de Israel, é uma árvore generosa pois dá frutos dez meses por ano. Ela estava plantada no meio da vinha, que também simboliza Israel. É Deus que a plantou. Só que esta figueira não dá frutos e já faz três anos de espera paciente – paciência de Deus. Três anos podem simbolizar o tempo da atividade de Jesus sem resposta produtiva de Israel. Deus se dirige ao agricultor e exige que ele a corte. O agricultor é Jesus. Jesus pede mais um tempo. Vai investir além das expectativas. Vai desdobrar-se de cuidados pela sua figueira: cavar ao redor e adubar! Só que os agricultores sabem que não precisam adubar as figueiras, pois já eram plantadas no meio das vinhas e tratadas com esmero. Este cuidado retrata que a solidariedade, paciência e carinho de Deus chegam às raias do absurdo. Mas fica uma grande pergunta no ar:Será que para nós que somos a figueira não está terminando o ano da culpa? O excesso de carinho e paciência de Deus está encontrando ressonância? Quem sabe estamos abusando da paciência de Deus?

Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo Emérito da Diocese de Caratinga

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