Diocese de Caratinga

Rádio Eclesia

31º Domingo do Tempo Comum

30/10/2022 . Comentários Homiléticos

Primeira Leitura: Sb 11,22-12,2

Para fixar na memória, vamos transcrever o contexto histórico que motivou o livro da Sabedoria, que, aliás, já lembramos em comentários anteriores. É que o livro da Sabedoria foi escrito em Alexandria, no Egito, cerca do ano 50 antes de Cristo. Uns estudiosos falam que moravam na grande cidade de Alexandria cerca de 100.000 judeus, outros elevam este número para 200.000. Então, o autor estava preocupado em defender a identidade cultural e religiosa desse numeroso povo, ameaçado por uma cultura diferente e paganizada. Ele vai ajudar o povo a rever o seu passado para encontrar forças para viver o presente num contexto novo e hostil. Assim, há um contraste entre a sabedoria grega e a sabedoria dos seus antepassados, que é a verdadeira sabedoria capaz de conduzir o povo a viver uma vida justa e feliz. A sabedoria judaica era praticamente identificada com a justiça.

Do capítulo 10º até o 19º (o último) o autor faz uma longa meditação sobre o Êxodo, ou seja, a libertação do povo do Egito. Nos versículos anteriores aos nossos, o povo, praticamente, se pergunta por que Deus no seu poder não aniquilou de vez o povo egípcio opressor. Nosso texto é uma espécie de resposta a esta inquietante pergunta. É uma linda profissão de fé no Deus paciente, poderoso e misericordioso. Deus é paciente, porque os seus olhos são diferente dos nossos.

Temos três respostas: 1) Deus é paciente por causa do seu poder. Para Deus o mundo inteiro não passa de um grão de areia na balança, uma gota de orvalho. Só os fracos e medrosos são insensíveis e agressivos. O modo de Deus exercer o seu poder é através da compaixão. A violência é a arma dos fracos. Deus que pode tudo tem compaixão de todos. Se nós contemplássemos o mundo com os olhos de Deus, seríamos mais tolerantes, pacíficos e compreensíveis; não nos apavoraríamos tanto com o mal que vemos. 2) O segundo motivo da moderação de Deus com relação aos egípcios é que ele não leva em conta os pecados dos homens, dando-lhes uma chance de arrependimento. 3) A terceira razão é o amor. Ele ama tanto o que existe que não despreza nada do que criou. Que belo exemplo ecológico diante dos gananciosos predadores da natureza, nossa casa comum. Tudo o que Deus criou depende dele e é amado por ele. O v. 26 dá uma linda definição de Deus: ele é o amigo da vida. Hoje, os bens da vida estão nas mãos de povos “superiores”, gananciosos e egoístas, que não se importam com a exclusão da maioria dos seres humanos e com a destruição da natureza, contanto que eles se enriqueçam cada vez mais como se a riqueza conduzisse à vida eterna. Os dois versículos iniciais do capítulo 12 mostram primeiro que o espírito incorruptível de Deus está em todas as coisas. Daí nosso respeito por tudo e por todos. Depois lembram que Deus “castiga” com brandura. Na realidade, o que a Bíblia chama de castigo é mais remédio que castigo, para que os homens e mulheres se arrependam e acreditem no Senhor da vida.

Segunda Leitura: 2Ts 1,11-2,2

O tema mais importante desta carta é o tema da segunda vinda de Jesus, chamado de parusia. Muitos visionários estão anunciando o fim do mundo; estão perturbando a Comunidade e alegam que Paulo está com eles, inclusive dizendo que detém algumas cartas atribuídas a Paulo sobre este assunto. Aqui, Paulo vai esclarecer os mal-entendidos.

Nosso trecho está dentro da ação de graças, que começou no v. 3 logo após a saudação inicial. Paulo afirma rezar insistentemente pela Comunidade por causa da sublime vocação a que eles foram chamados e para que eles realizem todo o bem possível e dinamizem o trabalho da fé (v.11). E que essa fé seja ativa e não uma espera passiva sem fazer nada como se o Senhor fosse chegar amanhã (cf.3,6ss). É na vocação cristã e no exercício de uma fé viva que a glória de Deus e dos cristãos se manifesta. Nos dois versículos iniciais do capítulo segundo, Paulo pede a Comunidade que não se perturbe quanto à segunda vinda de Cristo como se estivesse para chegar logo, mesmo que os adversários argumentem que tiveram revelações ou cartas atribuídas a Paulo. Ele quer dissipar todo engano, boatos e sensacionalismos acerca de uma iminente chegada de Jesus como alguns estavam pregando. Também, quando iniciamos o segundo milênio, surgiram muitos visionários amedrontando os cristãos com anúncio do fim do mundo. O importante é que nós abramos o nosso coração e deixemos Cristo entrar, ensinando o verdadeiro amor, que é partilha, solidariedade e perdão. Temos muito caminho a percorrer. Devemos nos ocupar com o tempo presente, onde o Reino de Deus vai acontecendo. O futuro pertence a Deus.

Evangelho: Lc 19,1-10

Jesus está se aproximando de Jerusalém, onde ele se confrontará com as autoridades judaicas; depois será condenado à morte. A conversão de Zaqueu aparece, assim, no final da grande caminhada de Jesus no evangelho de São Lucas (Lc 9,51-19,27) como um episódio-exemplo; Zaqueu se tornou o tipo do discípulo que Jesus deseja, capaz de uma conversão sincera com a partilha dos bens. No evangelho de São Marcos, este discípulo de final da caminhada é o cego de Jericó (Mc 10,46-52). O episódio de Zaqueu tem algumas coisas curiosas. Começa pelo nome, que significa “puro” e de puro Zaqueu não tem nada. Ele não era apenas cobrador de impostos, odiado e impuro aos olhos dos judeus, mas era chefe dos cobradores de impostos, ou seja, chefe de uma espécie de quadrilha de corruptos, exploradores do povo, por isso o povo odiava os cobradores de impostos, pois os considerava traidores, ladrões e impuros. Parece que Jesus quer nos ensinar a enxergar com os olhos de Deus. Neste sentido, o verbo “ver” aparece aqui três vezes. Nós costumamos ver as aparências, Deus vê o coração. Jesus parece que vê, além disso, as possibilidades de mudança no coração humano. Não é curioso que Jesus, entre tantas pessoas boas em Jericó, resolva hospedar-se logo na casa de um rico e explorador do povo?(v. 2). O povo que acompanhava Jesus não gostou e o criticou: “Ele foi hospedar-se na casa de um pecador” (v.7). Jesus não se importa com as conveniências e os tabus da sociedade. Ele passa por cima até mesmo da sua própria afirmação em Lc 6,24: “Ai de vós, os ricos, porque já têm a sua consolação”. Aliás, um pouco antes do nosso texto, em Lc 18,25, Jesus tinha dito: “É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos céus”. Mas ele continua em 18,27: “ Entretanto, o que é impossível para os homens é possível para Deus”. Jesus viu possibilidades de mudanças radicais no coração de Zaqueu. Zaqueu, na verdade, tinha o desejo de ver Jesus (v.3); ele até subiu numa figueira para vê-lo. Jesus, ao passar, olhou para cima e disse: “Desce depressa, Zaqueu, porque, hoje, preciso ficar em sua casa”. Jesus chama Zaqueu pelo nome e não disse que queria fazer-lhe uma visitinha, mas que queria ficar na sua casa com ele, tomar ali a refeição, que normalmente era servida de noite, e queria dormir lá. O povo vendo isto critica Jesus. Muito interessante é a atitude de Zaqueu: uma conversão radical. Prometeu dar a metade dos seus bens para os pobres e devolver até quatro vezes mais o que roubou nos seus negócios. Será que ele continuou rico com esta atitude? Parece que ele se tornou pobre para receber a salvação que Jesus lhe trouxe! Uma palavrinha importante no evangelho de São Lucas é a palavra “hoje”. “Hoje”, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor” (Lc 2,11). “Hoje”, se cumpriu esta passagem da Escritura, que vocês acabaram de ouvir” (Lc 4,21). “Desce depressa, Zaqueu, porque hoje preciso ficar em sua casa” (v.5). O episódio de Zaqueu termina, quando Jesus diz: “Hoje, a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão”. E, no versículo 10, vemos a síntese da missão de Jesus: “De fato, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.
Talvez este episódio nos convide a olhar o hoje da nossa vida e se a salvação de Jesus já chegou para nós, o que supõe nossa mudança de vida. E o segundo ponto é a mudança de ótica com que vemos as coisas. Costumamos ver as pessoas segundo os seus comportamentos externos, aparentes, seus defeitos e vícios. Não enxergamos o bem que cada um carrega de ser filho de Deus”, e desacreditamos em uma possibilidade de mudança em certos casos. Parece que não acreditamos que para Deus nada é impossível (Lc 1,37).

Dom Emanuel Messias de Oliveira
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