1ª LEITURA – Is 11,1-10
O profeta alimenta as esperanças do povo
Nosso trecho faz parte do “Livro do Emanuel” (Is 7-12). A monarquia está enterrando as últimas esperanças do povo, mas do toco de Jessé sairá um ramo, diz o profeta, um broto nascerá de suas raízes. O profeta Isaías vem alimentar as esperanças do povo. Javé vai conservar no trono um descendente de Davi. O trecho se refere, primeiramente, ao rei Ezequias (filho herdeiro do rei Acaz), mas, depois, podemos ver aqui uma projeção utópica de uma sociedade justa e igualitária, cujas bases serão, na verdade, lançadas pelo futuro Messias, que chegou na pessoa de Jesus sobre quem pousa o Espírito de Deus (Mt 3,16).
Identidade do Messias – vv. 1-5
Ele terá a plenitude dos dons do Espírito Santo. Será um líder perspicaz cheio de sabedoria e discernimento; saberá defender os interesses e os direitos do povo com seu espírito de fortaleza e conselho. Não terá a arrogância dos grandes, mas com humildade será submisso ao seu Deus com seu espírito de reconhecimento e temor de Javé (vv. 1-2). Seu modo de agir será fundamentado na justiça, fidelidade e retidão; terá predileção pelos fracos e pobres e punirá o violento e o ímpio (vv. 3-4).
Uma projeção paradisíaca – vv. 6-9
Sua administração será de uma paz e harmonia absolutas, onde não haverá mal nem destruição, pois a terra estará cheia do conhecimento de Javé. Toda a criação estará em harmonia. Os rivais começarão a viver juntos e a compartilhar os bens da vida: lobo e cordeiro, pantera e cabrito, bezerro e leãozinho, o urso e a vaca, o leão e o boi. O bebê poderá brincar com a serpente. Um menino guiará o bezerro e o leãozinho. É o paraíso reconquistado. O v. 10 ainda lembra que esse povo, cujas lideranças estão comprometidas com a justiça, será uma bandeira levantada que atrai todas as nações; e sua moradia será gloriosa.
2ª LEITURA – Rm 15,4-9
O cap. 15 é um convite à superação dos conflitos dentro da comunidade, composta de judeus e pagãos, de fortes e fracos. O v. 4 mostra a função das Escrituras para a comunidade de cristãos. Ela pretende instruir, ela gera perseverança e consolação. A palavra consolação tem nos profetas um forte significado libertador. Implicava a libertação de Israel e sua constituição enquanto povo de Deus. A Bíblia, assim, nos conduz à libertação e à vida de um povo unido em comunidade. O v. 5 é uma oração, um voto de que Deus dê a todos os mesmos sentimentos uns com os outros. O modelo é Jesus Cristo. Parece que o mesmo pensamento o apóstolo repete em 2, 1-5. No v. 1 aparece a palavra consolação e no v. 5 lemos: “Tenham em vocês os mesmos sentimentos que haviam em Jesus Cristo”. Quais são os sentimentos que haviam em Jesus? São tantos, mas para ficar no texto de hoje podemos lembrar: solidariedade, acolhida, serviço. O v. 6 conclui que assim “todos juntos e a uma só voz deem glória a Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo”. O sentimento de acolhida mútua está expresso no v. 7. Como Cristo nos acolheu devemos acolher a todos; isto para a glória de Deus. Os vv. 8-9 mostram que, a exemplo de Jesus, é preciso que haja união e acolhida mútua entre judeus e pagãos. A comunidade de Roma era composta de judeus e pagãos e talvez houvesse conflitos e dificuldades entre eles. Cristo trouxe a união e a reconciliação entre os povos. Cristo manteve a fidelidade de Deus sendo servidor dos judeus. E para os pagãos trouxe a misericórdia. Uniu, assim, os dois povos de modo que todos possam dar juntos glória a Deus.
EVANGELHO – Mt 3,1-12
Quem é João Batista?
Um profeta no estilo dos profetas do Antigo Testamento. O deserto, onde ele pregava, indica que a novidade não está na cidade com seu sistema injusto e opressor.
Foi no deserto que o povo de Deus criou um novo modelo de vida. Seu modo de vestir e de se alimentar já denuncia a exploração e o consumismo da cidade. João realiza a profecia de Isaías. Ele anuncia a aproximação do reino. Ele prepara os caminhos do Senhor, pregando a conversão. A conversão consiste em romper com o sistema opressor da cidade. É esta sociedade que entorta os caminhos do Senhor.
O Povo simples se converte
Os vv. 5-6 mostram a caminhada de conversão do povo pobre e marginalizado, sedento de justiça. Eles confessam seus pecados e João os batiza. Eles querem romper com o sistema e começar uma vida nova.
Fariseus e Saduceus também?
Não. Sua intenção é outra. Eles se aproximam para o batismo, mas, no fundo, pretendem apropriar-se do movimento popular iniciado no deserto. São eles os mantenedores do poder político, econômico e religioso. João é severo com eles. Eles são como cobras venenosas. O sistema deles gera morte. Não foram eles que geraram a morte de Jesus? Eles acham que são melhores do que os outros, porque são filhos de Abraão, mas João Batista exige prova de conversão; privilégios não bastam. A árvore que não produzir frutos será cortada e lançada ao fogo.
Quem é Jesus para João?
Jesus é Aquele que vai trazer ao mundo o julgamento de Deus. O critério decisivo será a justiça. Ele é mais forte que João e batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele fará uma limpeza geral. Recolherá o trigo no celeiro. Quanta à palha (uma vida fútil, injusta e opressora) ele vai queimá-la no fogo que não se apaga.
Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo diocesano de Caratinga