1ª LEITURA – Jó 38,1.8-11
O livro de Jó é uma reflexão sobre o sofrimento humano e uma contestação da teologia tradicional, que
afirmava simplesmente que Deus castiga os maus e recompensa os bons nesta vida. Satanás desafia Deus
dizendo que a bondade e a justiça de Jó são interesseiras, isto é, Jó é bom só porque nunca teve problemas, sofrimentos ou carências. Então, Deus permite que Jó caia na miséria e no sofrimento. Jó, então, pergunta a Deus por que ele está sofrendo e desafia Deus de achar nele algum pecado que justifique seu sofrimento. Os capítulo 38-41 são a resposta de Deus. Mas Deus não acusa Jó, nem responde sobre as causas ou as origens do mal. Deus apenas faz Jó perceber sua arrogância e atrevimento em questioná-lo. Deus lembra a Jó sua condição de criatura; ele não pode entender todas as coisas. Deus, porém, é o criador e Senhor de tudo. Quem vai dar uma resposta ao sofrimento humano é o próprio Filho de Deus, na cruz. O capítulo 38 mostra Deus como Senhor da terra (38,4-7), do mar (38,8s) e da tempestade (38,19ss). O nosso texto mostra de modo muito poético a soberania de Deus sobre as forças que geram o mal, aqui simbolizadas pelo mar. O mar nasce do seio da terra e Deus lhe deu nuvens por vestes e névoas por fraldas. Deus impõe limites ao mal simbolizado pelo mar: “até aqui chegarás; e não além; aqui cessa arrogância de suas ondas”. No final, Jó percebe sua arrogância e reconhece a soberania de Deus sobre tudo e sobre todos (cf. Jó 42,3-5; cf. evangelho de hoje).
2ª LEITURA – 2Cor 5,14-17
Este texto pertence a um conjunto maior que trata da reconciliação (5,11b.12). Cristo deve ser o centro da
nossa vida. Foi só ele que morreu por todos. Não devemos viver mais para nós mesmos no egoísmo, mas
para Cristo. É interessante observar que, em outro lugar, Paulo fala que a comunidade é o corpo de Cristo. Não viver para si mesmo e viver para Cristo significa viver para a comunidade, viver a serviço do amor e da comunhão. Paulo lembra que conhecer as pessoas e até mesmo Cristo com critérios humanos tem pouco valor. O fato é que alguns adversários do apóstolo se gloriavam de ter conhecido a Cristo
pessoalmente e por isso achavam que eram superiores a ele. Mas isto importa pouco, pois muitos o
conheceram pessoalmente e nunca viveram a comunhão com ele. O importante é “estar em Cristo” e ser
“uma nova criatura”. O que funda o apostolado, o que transforma a nossa vida é a comunhão com o
Cristo ressuscitado. O que era velho ficou para trás, agora Cristo inaugura uma realidade nova, ele recria
todos aqueles que querem na fé superar seu próprio egoísmo e arrogância e fazer comunhão com ele.
EVANGELHO – Mc 4, 35-41
O trecho de hoje é o primeiro de uma série de 4 milagres que querem responder à pergunta: Quem é Jesus? Mostrando o seu poder libertador, ele liberta o homem dos perigos da história (cf. 4,35-41), do poder da doença (cf. 5,25-34) e do poder da morte (cf. 5,21-24. 35-43). Jesus convida os discípulos para
atravessarem o mar e irem para a terra dos pagãos. A Igreja, que se encontra no mar da vida, deve
enfrentar todos os perigos para realizar sua dimensão missionária, sem nunca perder a fé na presença
salvadora de Jesus que caminha com ela. O mar é símbolo do mal e da oposição ao projeto de Jesus. O
outro lado do mar é terra de “demônios”; então, parece que o demônio do mar está querendo impedir a
travessia libertadora. A comunidade faz sua caminhada na história, enfrentando todo tipo de desafios,
obstáculos, perigos e tentações. As tentações são simbolizadas pelas ventanias e tempestades: onde está
Jesus? Nas dificuldades não acreditamos que Jesus caminha conosco; sempre achamos que ele está atrás e dormindo! Aquela historiazinha chamada “As pegadas na areia”, ilustra bem nossa desconfiança e a
certeza da presença de Jesus. Jesus, no episódio de hoje, mostra sua autoridade divina. Com uma só ordem ele faz o mar acalmar e o vento parar. Jesus tem poder sobre as forças do mal que ameaçam a
comunidade. Jesus admira o medo e a falta de confiança dos discípulos diante dos desafios da missão.
“Por que são tão medrosos? Ainda não têm fé?” A pergunta final dos discípulos fica em suspense para que cada leitor chegue a uma conclusão pessoal sobre quem é Jesus. Para chegarmos a uma conclusão correta basta meditarmos sobre as palavras e ações de Jesus em todo o evangelho.