Diocese de Caratinga

Rádio Eclesia

2º DOMINGO DA PÁSCOA

16/04/2023 . Comentários Homiléticos

1ª LEITURA -At 2,42-47

A identidade da comunidade cristã está sustentada sobre 4 pilares: o ensinamento dos apóstolos, a comunhão fraterna, a fração do pão e as orações.

Os apóstolos vão lembrando para a comunidade as palavras e ações de Jesus: como Jesus queria sua comunidade; a substituição do poder pela fraternidade (comunhão fraterna), a substituição do acúmulo pela partilha dos bens (repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um). Percebe-se, claramente, o desejo de eliminar as distâncias entre ricos e pobres na comunidade. Havia em casa, refeições comunitárias e, em seguida, celebravam a Eucaristia. Até o ano 70 ( época da destruição do Templo), eles também frequentavam o Templo para as orações. Havia também orações comuns, talvez o louvor, presididas pelos apóstolos, como por exemplo, At 4,24-30.

O que Lucas faz aqui não é um simples registro de acontecimentos. Ele não quer dizer que a comunidade sempre repartiu os seus bens e que nunca houve carência ou falha de alguns membros. (cf., por exemplo, o episódio de Ananias e Safira em 5,1ss). O que Lucas quer mostrar é o ideal da comunidade, aonde a comunidade deve chegar. Ele toma alguns acontecimentos extraordinários e marcantes e os generaliza para apontar o ideal da comunidade cristã. A partilha é importante, mas sabemos, hoje, que o ideal cristão requer um passo a mais, requer mudanças de estruturas, requer uma interferência no mecanismo da posse dos meios de produção. Sem a mudança do sistema iníquo e opressor, em que vivemos,a distância entre pobres e ricos só tende a aumentar cada vez mais. O que podemos fazer?

2ª LEITURA -1Pd 1,3-9

A 1Pd, de autoria de um discípulo do apóstolo Pedro, foi escrita para os emigrantes, que viviam fora da Pátria ou em busca de sobrevivência ou como escravos comprados. Eles sofriam por serem estrangeiros e também por serem cristãos. O autor quer propor resistência e perseverança diante das perseguições e sofrimentos. Apresenta o cristianismo como um “Lar para quem não tem casa”. Eles devem formar uma família nova em torno da fé, eles devem ser a casa de Deus. Esta comunhão de vida, onde até os escravos são considerados irmãos é força indispensável diante das hostilidades dos de fora.

Nosso texto é um hino de louvor. Os versículos iniciais (3-5) recordam a ação de Deus em favor das pessoas por meio de Jesus Cristo. Bendizemos a Deus, porque ele nos gerou de novo na sua grande misericórdia, através da ressurreição de Jesus para uma esperança viva de salvação. A herança que adquirimos pela ressurreição de Jesus é como uma coroa sem defeito e que não murcha. As coroas que os vitoriosos ganhavam, antigamente, eram feitas de plantas entrelaçadas, e murchavam com o tempo. A herança dos cristãos é imarcescível, quer dizer, não murcha (v. 4).

Os versículos finais (6-9) mostram as novas relações entre os cristãos e Deus. Relações de alegria apesar das provações deste mundo. Estas provações vão purificando a fé. Esta autenticidade da fé vai alcançar louvor, honra e glória, quando Jesus se manifestar. Relações de profundo amor e repleta de alegria por causa da certeza da salvação. Em síntese, diante de todas estas bênçãos de Deus, os sofrimentos atuais não devem desanimar ninguém, mas podem, até mesmo, ser motivo de alegria, porque testam a perseverança na fé, que conduz à salvação. Como minha comunidade tem encarado as lutas diárias?

EVANGELHO – Jo 20,19-31

Fundação da comunidade Messiânica

Temos aqui a fundação da comunidade Messiânica que vai dar sequência ao projeto de Deus. Estamos no início do novo dia: a tarde do primeiro dia da semana; é uma nova era inaugurada pela vitória de Cristo Jesus sobre a morte. O contexto é eucarístico, o cordeiro imolado se apresenta com os sinais da morte, mas cheio de vida, desejando a plenitude dos bens messiânicos para todos: shalom = paz. Jesus afugenta todo temor. Seu corpo glorificado está livre de qualquer barreira (entrou com as portas fechadas). A alegria para os discípulos é a nota dominante.

O Envio para a Missão

Segue o envio para continuar a missão de Jesus sob a garantia do Espírito Santo. O Pentecostes no evangelho de João já está acontecendo com este sopro divino, relembrando o sopro no início da criação do homem. Uma nova criação está acontecendo. O projeto de Deus é retomado com o perdão dos pecados. Pecado (no singular) para João é adesão ao sistema iníquo que matou Jesus. Pecados (no plural) são os gestos concretos que decorrem desta opção injusta. Quem se fecha ao projeto de Deus permanece em seus pecados. Neste texto de Jo 20,22-23 está o grande fundamento bíblico para o sacramento da confissão dos pecados e do perdão administrado pela Igreja através do sacerdote.
Quem é mais feliz e mais importante?

Talvez o episódio de Tomé tenha sido acrescentado para dizer que os que não viram Jesus não são inferiores às testemunhas oculares. O importante mesmo é a fé e o compromisso com o projeto de Jesus. A figura de Tomé está simbolizando todos aqueles cuja fé não é pura, não nasce da experiência de amor da comunidade, mas depende de milagres, de sinais extraordinários. Mas Tomé dá um testemunho bonito: “Meu Senhor e meu Deus”. É a maior profissão de fé do Quarto Evangelho. Ele vê Jesus como Senhor e como Deus. É Deus que exaltou seu Filho Jesus e o colocou onde estava, no princípio, junto de Deus, como Senhor da Glória com igual dignidade com o Pai (cf. 5,18 e 10,33). Tudo termina com a única bem-aventurança no evangelho de João: “Felizes os que não viram e creram”.

Vivo minha religião buscando milagres em meu favor, ou me dedicando ao serviço dos outros e da comunidade?

Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo diocesano de Caratinga

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