1ª LEITURA – Is 50,4-7
O 2º Isaías apresenta quatro cantos do Servo de Deus (42,1-9; 49,1-9a; 50,4-9; 52,13-53.12). Não se sabe bem quem é este “Servo Sofredor”. Seria o povo de Israel? Um anônimo? O próprio profeta? O Messias do futuro? O Primeiro Testamento não tem dúvida de que a profecia do Servo Sofredor se realiza plenamente em Jesus. Estamos num contexto, em que o povo exilado lamenta Deus ter repudiado Jerusalém – sua esposa – e vendido seus filhos como escravos.
Nos primeiros versículos do capítulo 50, Deus pede provas ao povo e o acusa de ser o responsável sobre a situação atual que foi motivada pelos seus próprios pecados.
O nosso texto se enquadra neste contexto, mostrando de um lado como Deus investiu no Servo em vista do bem do povo – é a preparação para a missão. Do outro lado, a responsabilidade do Servo.
Preparação para a missão
O Senhor Deus transforma o servo num verdadeiro discípulo com capacidade de falar, de ouvir, de consolar e ajudar os desanimados (v. 4).
Abre os ouvidos do servo, e o servo escuta atentamente e não recua diante de seus adversários (v. 5). O v. 7 expressa a certeza de que o servo será ajudado por Deus, por isso ele não se sente humilhado
Responsabilidade da missão do Servo
– Ele dá as costas aos que o torturam, ou seja, não oferece resistência (v. 6a).
– Oferece o queixo aos que queriam lhe arrancar a barba, quer dizer, o servo supera a humilhação e a desonra (v. 6b).
– Não esconde o rosto aos insultos e escarros (v. 6c) e, no v. 7b, ele afirma que endurece o rosto como pedra, para expressar a força, que ele recebe de Deus, para resistir e a certeza de que ele não vai se sentir fracassado.
2ª LEITURA – Fl 2, 6-11
Paulo aproveita um antigo hino da liturgia cristã para nos incentivar, através deste projeto de Deus, assumido por Jesus Cristo, a assumir o mesmo projeto, a ter os mesmos sentimentos e atitudes que havia em Jesus Cristo.
O hino é composto por dois movimentos. O primeiro descendente (vv. 6-8). O sujeito aqui é Jesus. O segundo é ascendente (vv. 9-11) e tem a Deus por sujeito.
O movimento descendente: Encarnação e morte de cruz (vv. 6-8)
Aqui temos a radicalidade do projeto de Jesus, que se tornou servo obediente até à morte e morte de cruz. O v. 6 lembra que Jesus era Deus, mas soube desapegar-se de sua glória e poder. O v.7 é um verdadeiro mergulho na miséria humana. Jesus foi ao fundo do poço. O texto, para salientar o esvaziamento radical, fala que Jesus assumiu primeiro a condição de servo e assim ele se torna semelhante ao homem, um simples homem. O v. 8 é a concretização do mergulho radical e profundo na miséria humana, através da humilhação e da obediência. Obediência até à morte e mais ainda, o que soa como “blasfêmia para judeus e loucura para gregos”, morte ignominiosa de cruz.
O movimento ascendente: (vv. 9-11) – A exaltação
Deus entra em cena a favor do Filho: “Quem se humilha será exaltado”. Deus ressuscitou seu Filho e o exaltou, fazendo-o assentar-se à sua direita na glória. É isso que os versículos 9-11 vão dizer com outras palavras. O “nome” é a identidade da pessoa. Dizer que Jesus é o Senhor é reconhecer novamente sua dignidade divina. E isso toda criatura e toda língua devem confessar. E o apóstolo termina afirmando: tudo isto “para a glória de Deus Pai”.
EVANGELHO – Mt 26,14-27,66
Aqui não podemos fazer outra coisa senão sintetizar o grande relato da Paixão com algumas observações.
O Messias vai ser morto
Jesus prevê sua paixão. Os chefes dos sacerdotes decidem matá-lo. A unção em Betânia é uma preparação para a sepultura de Jesus e Jesus a aprova. Em contraste com o gesto de ternura da mulher, Judas vende Jesus por trinta moedas (vv.1-16).
Preparação da Ceia Pascal, Traição e Eucaristia
Jesus manda preparar a ceia para recordar a libertação do Egito. Jesus é o novo cordeiro, que vai ser imolado. Durante a ceia, Jesus revela o nome do traidor e celebra a Eucaristia, consagrando-se pão e vinho. É o sinal da superação de toda idolatria escravizante. A ceia eucarística antecipa, simbolicamente, sua morte redentora e substitui todos os sacrifícios da Antiga Aliança (vv. 17-29).
Fidelidade de Jesus e anúncio da negação de Pedro
Jesus anuncia a desorientação dos discípulos na hora da sua prisão, mas promete ir à frente deles, ressuscitado, para a Galiléia. Então, Jesus prediz a tríplice negação de Pedro. Pedro não acredita nas palavras de Jesus e reafirma, com maior solenidade e ênfase, sua presunçosa fidelidade. E todos os discípulos aderiram a Pedro (vv. 30-35).
Agonia e prisão
No Getsêmani, Jesus, em oração, percebe todo o desfecho do grande drama da paixão: “Minha alma está numa tristeza de morte. Fiquem aqui e vigiem comigo”. Jesus precisa de companhia e solidariedade, mas fica só. Todos dormem. Jesus reza ao Pai, mas prefere que a vontade do Pai se realize. De repente, chega Judas, acompanhado de uma multidão, para prender Jesus. Jesus não quer que ninguém reaja usando a violência – arma dos opressores. Assim todos os discípulos o abandonam e, Jesus é preso, cumprindo assim as Escrituras ( vv. 36-56).
Testemunho de Jesus e traição de Pedro
Judas reconhece a inocência de Jesus, devolve o dinheiro e vai se enforcar. Com o dinheiro os sacerdotes compram o Campo do Oleiro para aí fazerem o cemitério dos estrangeiros. Por isso, esse campo recebeu o nome de Campo de Sangue, conforme a profecia de Jeremias. Os versículos seguintes narram a condenação de Jesus, o Messias inocentee a libertação do prisioneiro famoso, chamado Barrabás. É o povo que decidiu tudo, e Pilatos tirou o corpo fora.
Jesus – Messias – Rei e Filho de Deus é crucificado e sepultado
No meio de gozações e zombarias, Jesus recebe vestes reais. Depois das gozações é levado para o Calvário. Simão de Cirene ajuda Jesus a levar a cruz. Depois de crucificado, as gozações continuam. O letreiro acima de sua cabeça, afirmava a nossa fé: “Este é Jesus, o Rei dos judeus”. Os insultos e zombarias continuaram por parte dos que passavam, por parte dos chefes dos sacerdotes, doutores da Lei e anciãos e, até mesmo, por parte dos dois bandidos que foram crucificados com ele. Jesus morre às quinze horas. Os fenômenos cósmicos querem lembrar, simbolicamente, a morte do Filho de Deus. Depois, Jesus é sepultado por José de Arimatéia e seu túmulo foi vigiado por guardas das autoridades assassinas, para que o corpo de Jesus não fosse roubado, dando oportunidade aos discípulos de inventarem que Jesus ressuscitou dos mortos (vv. 27-66).
Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo diocesano de Caratinga