Diocese de Caratinga

Rádio Eclesia

1º DOMINGO DO ADVENTO

01/12/2024 . Comentários Homiléticos

1ª LEITURA – Jr 33,14-16

Iniciando o Novo Ano Litúrgico, as esperanças de vida se renovam. O povo precisa viver, precisa de paz, estabilidade e governantes justos. Este trecho parece fazer parte de acréscimos realizados na redação final do livro. Estamos, portanto, no pós-exílio.
O profeta anuncia a restauração da dinastia davídica. O v. 15 diz textualmente: “Naqueles dias, naquele tempo, farei brotar de Davi um rebento dado à justiça, que vai implantar a justiça e o direito no país”. O que aconteceu com Jerusalém é fruto da incompetência dos governantes e da violação do direito e da justiça por parte dos reis de Israel. Nabucodonosor, rei da Babilônia, invadiu Jerusalém e colocou no trono do rei Sedecias, cujo nome significa Javé-minha-justiça. Mas este pronome “minha”, caracterizou exatamente a justiça do invasor, não a de Javé, pois Sedecias foi cruel, ambicioso e violento. Deus promete, agora, através do profeta, dar, gratuitamente, a Israel um rebento santo uma nova autoridade que realmente vai implantar o direito e a justiça; seu nome, sua verdadeira identidade será “Javé-nossa-justiça”, clara oposição a Sedecias  (Javé-minha-justiça). Como fruto da presença de um governante justo “Judá estará salvo” e Jerusalém habitará em segurança. Na verdade, a legitimidade de uma autoridade está diretamente relacionada com a justiça, com a segurança e a paz social. A corrupção, a opressão, o empobrecimento crescente do povo são indícios de uma usurpação da autoridade, indícios de que os governantes estão governando a si mesmos às custas do povo.

2ª LEITURA – 1Ts 3,12-4,2

A Primeira carta aos tessalonicenses é o primeiro escrito do Primeiro Testamento (ano 51). Seu esquema é simples. Numa primeira parte (1-3), Paulo agradece a Deus os progressos espirituais da comunidade, sua vida de fé, esperança e caridade e a anima a perseverar. Na segunda parte (4-5), que é mais exortativa, ele dá algumas instruções e esclarece algumas dúvidas como o destino dos mortos, e corrige alguns abusos como prostituição, injustiça etc. O ponto forte nesta carta é o aspecto escatológico, ou seja, o fim do mundo ou a segunda vinda de Cristo (cf. 2,19; 3,13; 4,17; 5,23).

No capítulo terceiro, Paulo envia Timóteo para fortificar a comunidade e a exortar na fé, como também para trazer notícias, pois ele não aguentava mais ficar sem informações da comunidade (vv. 2º e 5º). Timóteo trouxe ótimas e consoladoras notícias (vv. 6º a 7º). Aqui, Paulo dá novo incentivo mostrando o dinamismo próprio do amor. Ele pede que o Senhor aumente cada vez mais o amor e que este amor ultrapasse os limites da comunidade e atinja todos os homens, pois todos somos irmãos, uma vez que Deus é nosso Pai e Jesus é nosso Senhor (cf. vv. 11 e 13). O exemplo que Paulo dá é seu próprio amor pela comunidade.

Ele pede ainda que o Senhor confirme os corações dos tessalonicenses, tornando-os irrepreensíveis e santos. O crescimento do amor tem que ser contínuo. O cristão é chamado à perfeição no amor. É interessante que quem faz crescer no amor e quem confirma os corações e os torna irrepreensíveis é o próprio Senhor. Se isto é obra de Deus, a nós cabe então a abertura, a docilidade, o não oferecer obstáculos à ação da graça.

Iniciando a 2ª parte da carta, o apóstolo, primeiramente, constata que a comunidade caminha bem, de acordo com as recomendações dadas; sua conduta agrada a Deus. Depois, ele a exorta a progredir mais ainda, pois ela conhece as instruções dadas pelo apóstolo da parte do Senhor. Na verdade, Jesus é o ponto de referência para tudo. Ele é, realmente, o centro da vida de Paulo e da comunidade. Só nesses quatro versículos a expressão aparece quatro vezes.

EVANGELHO – Lc 21,25-28.34-36

 

Qual é a mensagem geral do Apocalipse?

Estamos lendo um trecho escrito em linguagem apocalíptica (Lc 21). Este modo simbólico de falar nos faz pensar nas coisas que irão acontecer no futuro, mas a intenção do autor é chamar a atenção para o presente. No fundo é uma exortação a tomar partido aqui e agora diante do projeto de Deus, a não ficar passivo ou dormindo, mas atento, vigilante, operante. Não pretende atormentar a comunidade perseguida por causa da fé e do seu testemunho, mas, exatamente, dar coragem, ânimo e força. Aliás, o v. 28 deixa muito claro: “Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima.”

O Filho do Homem vem para julgar e salvar

Os vv. 25-26 usam um modo habitual, na linguagem apocalíptica, de falar da intenção de Deus na história. Deus tem poder sobre os elementos cósmicos. Sinais grandiosos e catástrofes cósmicas indicam a presença de Deus e sua intervenção poderosa em favor do povo eleito. No nosso caso estes sinais grandiosos antecipam a chegada do “Filho do Homem, vindo numa nuvem, com grande poder e glória”. Por trás deste texto temos a profecia de Dn 7, 13-14. A nuvem aqui é símbolo do poder e da glória divinas do Filho de Deus. Ele vem para julgar os que se opõem ao projeto de Deus e para salvar os eleitos. A ideia do julgamento aparece na angústia das nações pagãs, e no medo mortal dos homens ímpios. Eles verão o Filho do Homem vindo para julgar. Através dessas imagens cristãs devemos entender que o testemunho vivo das comunidades cristãs vai exercendo o julgamento entre os incrédulos e opositores do Evangelho, desmascarando suas injustiças e maldades.

A ideia de salvação está clara no v. 28: “erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”. Libertação traduz o termo grego “apolytrosis” que é o resgate que Cristo pagou com o seu sangue para nos tornar livres da escravidão do pecado. Os escravos eram libertos mediante “o resgate” em dinheiro. Cristo nos resgatou com seu sangue. Como cristãos devemos continuar o processo de libertação através do testemunho evangélico e da prática da justiça.

Como escapar daquele dia e permanecer de pé? (vv. 34-36)

Aqui temos uma exortação à vigilância (cf. v. 34: “cuidado” e v. 36: “ficai acordados”). Vigilância não significa acomodação e passividade, mas lucidez e discernimento diante dos acontecimentos. Devemos tomar cuidado para não nos deixarmos levar pelos vícios e preocupações da vida. E, positivamente, devemos ficar acordados e em oração para termos força para escapar e resistir ao julgamento.

 

Dom Emanuel Messias de Oliveira 

Bispo Emérito – Diocese de Caratinga 

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