Diocese de Caratinga

Rádio Eclesia

Assunção de Nossa Senhora – 18/08/2024

18/08/2024 . Comentários Homiléticos

1ª LEITURA – Ap 11,19a; 12,1-6a.10ab

Primeiro, precisamos ler esta indicação: Apocalipse de São João, capítulo 11, versículo 19; capítulo 12, versículos de 1 a 6, parte “a”, e versículo 10, partes “a” e “b”. Dá a impressão de que o mal exerce domínio sobre as forças do bem, mas o livro do Apocalipse mostra que, apesar das aparências, a vitória final é do bem, é de Cristo. Em 11,19, temos a abertura do Templo de Deus e o aparecimento da Arca da Aliança. Isto significa que Deus está se aproximando para comunicar algo importante aos homens. As manifestações cósmicas são uma indicação simbólica de que Deus vai julgar os homens. Em seguida (cap. 12), temos dois sinais no céu: a mulher e o dragão. A mulher, esposa e mãe, tem a proteção de Deus (vestida de sol) e já possui a eternidade (lua sob os pés). Ela traz os sinais da vitória (coroa na cabeça). As 12 estrelas simbolizam as 12 tribos de Israel – antigo povo de Deus – assim como os 12 apóstolos – novo povo de Deus – a Igreja. A mulher é uma imagem simbólica com diversos significados: Eva como mãe da humanidade; povo de Deus do Primeiro Testamento, que vai gerar o novo; Sião-Jerusalém, esposa de Javé; Maria, que dá à luz o Cristo, por isso aparece no céu; e, por fim, a Igreja, que continua tentando gerar o Cristo para o mundo, apesar de todas as forças do mal. O segundo sinal é um dragão cor-de-fogo, que simboliza o mal ameaçador.

O dragão “tem pleno poder sobre os impérios do mundo (sete cabeças e sete coroas), mas sua força é relativa e imperfeita (dez chifres, e só consegue arrastar um terço das estrelas do céu)”. Ele quer devorar o Filho da mulher, mas Jesus vence a morte e ressuscita (“foi levado para junto de Deus…”). A fuga da mulher para o deserto mostra a fragilidade da Igreja diante da força diabólica do mal, mas o deserto relembra a caminhada do Antigo Israel sob a proteção de Deus. A Igreja é protegida por Deus durante todo o tempo da perseguição, que é um tempo limitado – 1260 dias = 3 anos e meio. Três e meio é metade de sete, portanto um tempo imperfeito, limitado e controlado por Deus. O dragão simboliza, portanto, todas as forças opressoras contrárias à vida. O versículo final do nosso texto mostra que, apesar de tudo, a vitória final é de Deus em Cristo.

2ª LEITURA – 1Cor 15,20-27a

O capítulo 15 da Primeira Carta aos Coríntios aborda o tema da ressurreição. É uma espécie de “prova” e “explicação” da ressurreição. A ressurreição é o fundamento da nossa fé. Se Cristo não ressuscitou, nossa fé perde o sentido. Os versículos de hoje apresentam dois argumentos: primeiro, mostra Cristo ressuscitado como primeiro fruto (primícias) dos que morreram. Primícias eram os primeiros frutos que amadureciam. Logo em seguida, amadurecem os outros; depois, faz-se a colheita. Assim, depois da ressurreição de Cristo (primeiro fruto), vem a nossa. Segundo, Paulo faz uma contraposição entre Adão e Cristo. Assim como a morte veio através de Adão e todos morrem, assim também através de Cristo vem a vitória total. Ele destruirá todos os mecanismos da morte, chamados aqui de “principado, autoridade e poder”. Ele reinará até que tenha posto debaixo dos seus pés todos os seus inimigos, ou seja, todas as forças contrárias ao seu projeto de vida. O último inimigo que ele destruirá será a morte. Então, sim, chegará o fim e ele entregará o reino a Deus Pai.

EVANGELHO – Lc 1,39-56

Estamos no chamado “Evangelho da Infância”, que ocupa os dois primeiros capítulos do Evangelho de Lucas. A intenção não é histórica, mas teológica. Nosso texto fala da visita de Maria a Isabel (vv. 39-45) e do canto do “Magnificat” (vv. 46-55). Estas palavras não foram pronunciadas por Maria e Isabel, mas a elas atribuídas pelo autor São Lucas. São Lucas buscou estas palavras em textos do Primeiro Testamento. As palavras de Isabel são encontradas em Juízes 5,24: “Bendita entre as mulheres seja Jael”; em Judite 13,18: “Ó Filha bendita, sejas para Deus Altíssimo mais que todas as mulheres da terra” (referência a Judite). A expressão “Bendito seja o fruto do teu ventre” vem de Deuteronômio 28,1-4. O versículo 43 pode ter sido inspirado em 2 Samuel 6,9: “Como virá a arca de Javé para ficar na minha casa?”. Finalmente, o cântico de Maria se inspira no canto de Ana (1 Samuel 2,1-10), mãe de Samuel, depois que Deus a livrou da humilhação da esterilidade. Para Lucas, estes textos retratam a grandeza espiritual de Maria, por isso lhe são atribuídos.

1) A visita a Isabel

Cheia de Deus, Maria se apressa a servir os necessitados; neste caso, sua parenta Isabel, que estava grávida de seis meses. Esta caridade que o Espírito do Deus-amor provoca em Maria agita a criança no seio de Isabel e, de novo, o Espírito Santo entra em ação e produz em Isabel revelações maravilhosas sobre Maria. Parece ser o Espírito Santo responsável por estes encontros de amor. No fundo, temos o encontro de duas mães agraciadas por Deus: Maria, “mãe-virgem”, e Isabel, “mãe-estéril”. Temos também o encontro velado de dois filhos benditos: o Precursor João Batista e o Salvador Jesus. As palavras inspiradas de Isabel são tão bonitas que a Igreja as ajuntou às do anjo Gabriel e compôs a Ave Maria para que todas as gerações, ao menos de católicos, pudessem louvar Maria (cf. v. 48b). Maria é louvável por ser a mãe de Nosso Senhor e, sobretudo, porque acreditou que todas estas maravilhas que Deus prometeu vão acontecer.

2) O cântico de Maria: o “Magnificat”

Talvez este cântico já tenha sido cantado pelas primeiras comunidades cristãs, louvando a intervenção de Deus a favor dos empobrecidos e contra os donos do dinheiro e do poder. Maria encarna a esperança dos pobres, e sua confiança no poder de Deus inverte as situações. Ela se torna porta-voz dos mais fracos. Podemos observar no cântico uma introdução (vv. 46b-47): é um louvor pela realização das esperanças dos pobres. Um corpo (vv. 48-53), no qual vemos as maravilhas que Deus opera em favor dos humilhados. Deus exalta os humildes, aqui na pessoa de Maria, realizando grandes obras em seu favor (vv. 48-49), fazendo chegar a sua misericórdia a todos os que o temem. Depois, ele inverte as situações. No campo religioso, Deus dispersa os autossuficientes e soberbos (v. 51). No campo político, ele nivela os homens, derrubando poderosos e elevando humildes (v. 52). No campo social, outra inversão: enche de bens os famintos e esvazia as mãos dos ricos em vista da fraternidade (v. 53). Uma conclusão (vv. 54-55) ressalta a lembrança da promessa de Deus de ser misericordioso para com Israel e sua descendência.

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