Elias, nos capítulos 18-20, mata 450 profetas do falso deus Baal, o que faz com que a rainha Jezabel jure matá-lo (1Rs 19,1-2). Elias foge desesperado e acaba desejando a morte. Entretanto, Deus intervém na caminhada do profeta e indica-lhe o itinerário, apontando-lhe uma meta. Seu destino é o Horeb (Sinai), a montanha do Deus da vida. Ali, ele será capaz de refazer-se, de respirar a paz de Deus e prosseguir seu ministério profético. Foi ali que Deus, através de Moisés, fez aliança com seu povo. A intimidade com Deus robustece os servos do Senhor, os agentes de pastoral. Todos nós precisamos do silêncio do Horeb, especialmente os mais “barulhentos”, como Elias. Os mais afoitos e destemidos podem cair em frustrações e depressões, podendo desejar fugir e desanimar da caminhada. Mas Deus não abandona os que têm fé. Na nossa fome intensa, desmaiados debaixo da árvore, Deus aparece com um alimento misterioso. Na caminhada do profeta, Deus providencia pão assado e um jarro de água. O profeta simboliza o povo de Deus, fazendo alusão ao maná, codornizes e água do rochedo.
A primeira exortação de hoje lembra as murmurações do povo de Deus pelo deserto, quando, no dizer de Isaías 63,10, entristecem o Espírito de Deus: “Não entristeçam o Espírito Santo”. Ele é a força interior da caminhada dos servos de Deus. O que entristece o Espírito Santo são os resquícios do homem velho, como aspereza, desdém, raiva, gritaria, insulto e todo tipo de maldade. O que alegra o Espírito Santo são as características do homem novo: bondade, mútua compreensão e perdão mútuo. O modelo do perdão é o perdão de Deus em Cristo. Aqui, o autor pede algo extremo: “Sejam imitadores de Deus”. Essa imitação é na linha do amor, a característica básica do homem novo, cujo modelo é Cristo. Devemos amar como Jesus amou. Sua entrega é o ideal supremo do amor. Por isso ele agradou a Deus “como perfume agradável” (cf. Ezequiel 20,41).
No capítulo 6, temos o milagre da multiplicação dos pães, o milagre de Jesus caminhando sobre as águas e um grande discurso sobre o pão da vida, que é Jesus. É um belíssimo discurso sobre a Eucaristia. No entanto, esta revelação de Jesus encontra rejeição por parte do povo, das autoridades judaicas e até de alguns discípulos. No final do discurso, a comunidade apostólica, pela boca de Pedro, faz uma grande profissão de fé em tudo que Jesus falou. No texto de hoje, Jesus é rejeitado pelas autoridades judaicas. A crítica que os judeus fazem relembra as murmurações dos hebreus no deserto (cf. Êxodo 16,2-14). Jesus afirma que ele é o “pão que desceu do céu”, e eles o criticam. Há duas afirmações: que Jesus é alimento e que ele desceu do céu. A primeira dúvida das autoridades é que Jesus desceu dos céus. Eles não aceitam isso, pois sabem que Jesus é um homem e conhecem seus pais, por isso não aceitam sua origem divina. Mas Jesus dá um basta a essas murmurações e incredulidades. Para os fariseus, a Lei é a fonte de vida. Para eles, a ressurreição é fruto da observância da Lei. Jesus ensina algo novo. Mas os fariseus não entendem, pois só se chega a Jesus por atração do Pai, e eles estão distantes do Pai. É o Pai que puxa as pessoas para Jesus como um ímã. É preciso escutar o Pai. Os profetas já disseram que todos os homens são instruídos por Deus. Quem escuta o Pai chega até o Filho. E é o Filho que ressuscita as pessoas, não a observância da Lei. Ninguém até hoje viu o Pai (cf. João 14,9). Escutar o Filho é escutar o Pai. Jesus é o sinal (sacramento) do Pai no mundo. E o único jeito de chegar ao Pai é por meio dele. Jesus é o pão da vida eterna, definitiva. Para os judeus, o único jeito de chegar a Deus era através da Lei, que era comparada ao pão. Jesus afirma que o pão (maná) que alimentou os judeus no deserto não os conduziu à vida. O pão que conduz à vida é aquele que desceu do céu. É Jesus. Sua carne será alimento definitivo para nós. Sua carne é a pessoa viva de Jesus no sacramento (sinal) do pão: “quem come deste pão viverá para sempre”.