Magda Mello*
Aconteceu, na paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Realeza, Distrito de Manhuaçu-MG, com seus arredores de serras e matas verdes, próximo ao Pico da Bandeira, Diocese de Caratinga, o 9º Encontro Diocesano das CEBs. Os participantes, em torno de 300 pessoas das Comunidades Eclesiais de Base, foram carinhosamente acolhidos no salão aberto, ao lado da Capela de Nossa Senhora da Conceição. O encontro teve como tema: CEBs uma caminhada sinodal e como lema: Reconheceram Jesus no caminho (cf. Lc 24,13-35).
Resgate da profecia e dos pilares da ação evangelizadora
O encontro iniciou-se com a Celebração Eucarística presidida pelo bispo diocesano Dom Emanuel Messias de Oliveira, e concelebrada por vários presbíteros, em meio ao povo. Em sua homilia, falou-nos sobre a morte de Joao Batista, grande profeta que denunciava e anunciava, disse que “é preciso ouvir a voz dos profetas. Estamos vivendo uma dura realidade, fome, territórios indígenas invadidos, mortes, situações de calamidades.” A Amazônia, pulmão do mundo, está sendo devastada. Os gestores investidores estrangeiros não estão tendo coragem de investir no Brasil diante dessa situação. Como podemos produzir tanto e passar fome? Vivemos uma realidade de desigualdades, precisamos dos profetas. Os profetas, às vezes, nos tira a paz, a paz daqueles acomodados, o profeta derrama seu sangue por causa de seu Deus. Como profetas é preciso denunciar as injustiças para que haja uma vida em abundância, contribuir na partilha, na solidariedade, no compromisso com a Mãe Terra, revigorados pelas CEBs, abrindo nossos corações na linha dos profetas.
Após a celebração Pe Jamir Pedro Sobrinho, agradeceu a homilia partilhada, relembrou tempos áureos da caminhada, pessoas e compromissos como o MOBON (Movimento da Boa Nova) com as cartilhas dos Grupos de Reflexão, elaborados pela Equipe da Diocese de Caratinga, e convidou João Resende, religioso Sacramentino, integrante do MOBON a fazer a leitura da Carta “Mensagem ao Povo de Deus”, fruto da última Assembleia Diocesana de Pastoral, realizada em julho de 2022, que se fundamenta nos quatro pilares da casa-comunidade: Palavra, Pão, Caridade e Missão, como eixos da ação evangelizadora.
Caminhada sinodal das CEBs
Dando continuidade, com assessoria do Padre Manoel Godoy, os participantes do encontro aprofundaram o tema proposto: CEBS uma caminhada sinodal e o lema: Reconheceram Jesus no caminho (cf. Lc 24,13-35)..
O assessor apresentou os sinais concretos de sinodalidade na caminhada das CEBs, bem como atitudes sinodais no modo de estruturar-se como igreja, privilegiando o agir e o decidir comuns. Os participantes foram organizados por foranias, onde foram partilhados os desafios e as experiências sinodais nas Comunidades Eclesiais de Base. Recordou-se que após Pentecostes, os discípulos reencorajados e esperançados, partiram para dar continuidade à missão de Jesus. Passaram a ser identificados como “os homens e mulheres do caminho”.
Papa Francisco, numa atitude profética, desde o início de seu pontificado, tem provocado a retomada desse princípio. Ele insiste em uma “Igreja em saída para as periferias” e agora vai além: propõe uma Igreja Sinodal para um novo modo de ser Igreja neste 3º milênio. Assim diz o Santo Padre: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos”.
As CEBs, em seu dinamismo, trazem esse jeito antigo e novo da Igreja ser. Inspirados pela sabedoria do Evangelho, não desanimemos. Não tenhamos medo de sujar nossos pés nos caminhos das periferias sociais, culturais e existenciais de nosso tempo. Coragem! À nossa frente, segue o Mestre Jesus, que entregou a própria vida por amor e defesa da vida.
Este 9º encontro das CEBs e a Carta “Mensagem ao Povo de Deus” quer ser para nossa Diocese um marco: fortalecidos pela Esperança Inquieta, renovemos aqui o nosso compromisso de lutar pela vida, pela democracia, por territórios livres de mineração e pela defesa das águas e da agroecologia. É assim que o povo de Deus vai quebrando as algemas. E, de passo em passo, começa a andar. Estamos resgatando nossa identidade. Mais cedo ou mais tarde, “vamos nos libertar“.
Realeza, 30 de julho de 2022.
* Assessora das CEBs do Brasil, Regional Leste II